29/12/2009

Espelho

“…torno-me espelho de mim mesmo e a luz que em mim me toca, se reflecte no exterior do meu ser… espalho o que sou no espaço em meu redor… vejo-me diverso e dividido em milhares de partículas de luz, facto que tanto me seduz… porém, receio quebrar-me em mil pedaços e perder a magia destes meus ténues passos pelo mundo da fantasia… elejo-me mentor de mim mesmo e, sereno, torno-me pleno daquilo que sou: uma partícula apenas no meio do nada que me rodeia… mas a minha imagem, por todos os lados dividida, semeia no espaço em que me insiro tudo o que tenho por pouco que seja e eu sinto que a verdade deste louco imaginar, mais não é do que o desejo de o ser, de em mil imagens me tornar e… me dar…”

26/12/2009

Determinismo


“…tentei, com a minha mão quente, dar-lhe um sopro de vida mas ele já estava prisioneiro da morte… fez, assim, a sua última viagem… deve ter sonhado que a morte era uma mão quente a abraçá-lo com amor…”

21/12/2009

Quis ser um Poeta...

"...quis ser um poeta que tivesse asas... e poesia em cada voo... quis ser um poeta cujas palavras vos enchesse a casa... e que vos reencontrasse em cada dor... quis ser um poeta que fosse fogo e água e sol e terra... e que com todos esses elementos criasse um novo ser... mas há poetas que são simplesmente poetas... há poetas que ainda nem sabem que o são... há poetas... imensos... tentei um dia ser um desses poetas... e sei hoje que um poeta nunca morre... faz-se em vida mesmo na morte, soltam as asas e levam-vos o vento... protegem-vos e fazem-se ao caminho convosco... peregrinam em vós... que com ele caminhais... bebeis o sorriso dos poetas... vedes pelos seus olhos, e por detrás desses olhos, uma alma que brilha e ilumina cada recanto escuro da vossa própria alma... e é em dias de negro e frio que mais precisais dos poetas... porque eles são fonte, força e semente... um poeta nunca mente... ele, o poeta, é a vossa armadura, a vossa madrugada e o fim de tarde... a vossa lua nova ou lua cheia... são perenes todos os poetas... nascem e renascem... mesmo sem nunca morrerem... nada destrói um poeta, nem a voz nem o sentir... quis ser um desses poetas que tivesse asas e poesia em cada voo... podemos ser usados, abusados, até como lixo abandonados, enegrecidos e deturpados... simplesmente somos quem somos ... podemos ser retalhados, citados e aviltados... podemos ser usados como arma de arremesso... podemos ser teorizados e complicados... podemos ser mistificados e cristalizados... podemos até servir de pasto em chamas inquisitoriais... não somos orações, nem homilias nem credos... e não nos deixamos cair... não somos ameaça do fim do mundo... não somos propriedade de ninguém... não somos espada nem guilhotina... não cabemos na pena nem no ódio de quem de nós se apropria... somos apenas poetas... somos simplesmente imensos... não cabemos em nenhuma semana nem em qualquer dia... somos de todos os tempos... não nos deixamos aprisionar por nenhuma alma negra... somos apenas asas... não somos anjos... somos apenas amor e amamos... e se agora sei, como tão bem sei, que as palavras vos podem fazem voar, que às vezes vos levam para lá do mar, em asas de vento, de dor e de amor... sei também, como sabem todos, que não há palavras nem versos, nem poesias que cheguem para transformar um poeta num anjo..."

19/12/2009

Sentir

“... és sinónimo de paz, na palavra que me dás... és sinónimo de beleza nesse olhar profundo sem mácula de tristeza... és sinónimo de alegria no toque suave que em mim um teu sorriso cria... és sinónimo de paixão quando disfruto o bater mais forte do meu coração... és sinónimo de harmonia quando me beijas enlaçados em sintonia... és sinónimo de luz quando no escuro da noite teu amor me seduz... és sinónimo de serenidade quando no abraço matamos a saudade... és sinónimo de ternura quando na partida o teu olhar em meus olhos perdura... és sinónimo de puro amor quando nos afagamos com a alma e os corpos sem pudor... és saudável loucura quando sinto a nossa mútua procura e nos afogamos no delirar de um sentir que tudo é tão simples quando sabemos porque é que nos estamos a amar... és tudo o que um simples mortal busca na imortalidade que a qualquer um ofusca no silêncio do grito que amaina a febre do ruído que quebra tudo mesmo que fosse granito... és tudo o que o amor busca no olhar, no toque, no beijo que de momento em momento se reduz ao desejo, trazendo como prenda, tecido em flocos de doce renda, o caminho percorrido como sempre desejado, obtido e que a luz em nossos corações se acenda para num florir matinal ou num anoitecer normal, o doce sabor nos acorde ou nos adormeça em profunda certeza que o dia seguinte mais não será do que um novo fruir do amor que nos envolve e a cada momento nos devolve na mais plena pureza do aceno tão natural como há pouco sobre nós desceu... porque se te sinto minha, sei que me sentes teu...”

02/12/2009

Imagens

“…encosto a cabeça no vidro semiaberto e fecho os olhos por segundos; pela frincha sai o fumo do cigarro ao mesmo tempo que as gotas da chuva varrida pelo vento tenta entrar com força. Não há lágrimas que se comparem às que batem no tejadilho do carro; o vento sopra forte de sul e as ondas alterosas mostram-me um mar agitado porque de si próprio aquelas lágrimas haviam saído uns dias antes. Percorro a visão até ao horizonte cinzento-escuro e vejo um relâmpago descer sobre as águas. Imagem bela e soberba. O céu zangado como me ensinaram em criança. O interessante era terem mais medo do trovão do que do relâmpago. Havia uma cantilena que rezavam fechadas no quarto; algo que no meio das palavras semi comidas pela reza eu percebia algo como santa bárbara; mais tarde vim a saber que Santa Bárbara tem a ver com as trovoadas, dizem. Imagens da infância que recordo com saudade. Um corpo deitado no chão da sala, uma chupeta e um açucareiro ao lado; e lá ia eu molhando a chupeta no açúcar e chupando; ainda hoje gosto de comer açúcar. Um corpo escondido no meio do centeio que não se dobrava pelo vento; um corte num pé provocado por um vidro escondido. Umas mãos pequenas pegando nas pombas que existiam no pombal do pai. Uma gaveta com postais antigos do Brasil que meu avô trouxera. Um retrato enorme dele e de minha avó no dia em que casaram, pintado a carvão. Era imponente. Um fogão de lenha crepitando. A chuva que entrava pelo vidro começou a molhar-me a face e a cabeça e o cigarro já me estava a saber mal. Liguei o motor, fiz marcha-atrás e arranquei dali para fora. Para lá do mar ficava o sonho, o sonho que sempre tive de o enfrentar, o sonho que sempre tive de me meter dentro dele e o amansar. Nunca conseguido. Os faróis foram ligados porque a penumbra já era demasiadamente escura para ser dia. A noite que se aproximava iria brindar-me com mais recordações; é isso que faço para adormecer todas as noites; relembro imagens distantes e tento reconstruir a vida que já não existirá nunca mais. Puzzles de imagens, de sons e de choros e de risos, de quedas, de corridas, de corpos cheios de calor abraçando-nos. Porque me faz tanta falta esse abraço de outrora? A estrada à minha frente ainda era longa e a noite me esperava…”

30/11/2009

Tenho frio

“…tenho frio, tenho mesmo muito frio… Sinto um arrepio dentro de mim que me faz encolher a alma… dobro-me sobre mim mesmo e procuro a razão do frio que sinto… sinto-me cheio de um vazio que se instala no meu cérebro e deste passa para o meu ser… Sinto-me entorpecer e as pernas dobram-se e enregelam… O frio que sinto faz-me tremer… não vejo sol dentro de mim e a lua passou já muito ao largo e não deixou rastos… As estrelas estão longe e não me iluminam o suficiente para aquecer o meu coração… É tudo em vão… Todo o esforço que faço para me manter à superfície ainda me magoa mais porque as forças me abandonam e o corpo rejeita energias que gasto nesta viagem… E é apenas a minha imagem… Mas olho para lá e não vejo nada que me faça regressar… E desejo cada vez mais sair, fugir mesmo sem saber para onde ir… não é dilema não saber o que aí vem… sabe-se que se está a ir nessa direcção e deixamo-nos ir como folha perdida nas águas turbulentas de uma sarjeta suja de pó e vazia também de tudo… Deito-me dentro de mim e adormeço no meu sonho sem dormir… é um sonho acordado de tão cansado que nem o sono sossega e não me dá trégua… Tenho frio, tenho muito frio… Sinto um arrepio de novo e mais uma vez me encolho e olho para dentro do copo que tenho na mão… é um copo vazio como eu e também está frio… peço a alguém que o encha de novo e dizem-me que não, que já bebi demasiado… mas eu sei que não, ainda consigo entender o que me é dito e porque razão ouço este imenso grito… Saio num tropeço dum trôpego andar… Passo pelo espelho e alguém do lado de lá olha para mim e sorri… é alguém que eu já conheci, alguém que já esteve aqui comigo, dentro de mim… nunca mais o vi… por onde andará?… No entanto, foi simpático, acompanhou-me até à saída… não o vi mais… não havia mais espelhos naquela sala daquele bar… Abri a porta de par em par… Respirei o ar frio da noite ainda mais quente do que o frio que eu sentia dentro de mim… Olhei o mar que se estendia para lá daquelas escadas que desciam para ele, ele que me esperava depois do abismo… olhei-o e ele riu-se numa risada tremenda que me fez encolher e de novo ver que já nada estava ali a fazer… Preciso de dormir, mas um sono que jamais termine… preciso de dormir e afinal o carro está ainda ali… é aquele preto… tem aros prateados nos faróis mas não tem luz, estão apagados como eu… A chave está na minha mão e abrir a porta não custa.. já nada me assusta porque o frio me tira a percepção da realidade… tenho apenas uma vontade, dormir, deixar-me ir e não saber nem como nem para onde…
Tenho frio, tenho muito frio…”

29/11/2009

Apelativos

"...Eram extremamente apelativos; estavam ali à minha disposição; em cima da mesinha de cabeceira. Era uma caixinha escura que ela usava para ter à mão os comprimidos que a faziam dormir. Nunca liguei qualquer importância ao valor daquela caixinha e, no entanto, ela continha o passaporte para uma viagem, uma sem retorno. Nunca houvera pensado nisso, excepto naquela noite; uma noite em que ela não estava ali deitada comigo (nunca mais estaria); uma noite em que acabara de chegar de mais um bar e depois de ter ingerido um bom pedaço de álcool para me aquecer a alma tão fria e tão dormente que já nem a sentia. Também, para que queria eu uma alma? Que é que ela me dá ou me faz? A caixinha preta continuava ali. Quantos comprimidos teria ela deixado desde a última vez que a encheu depois de os tirar da embalagem de marca do medicamento? A minha mão direita estendeu-se para aquela caixinha preta tão apelativa como tão consoladora pelo imaginário que já me estava a provocar. Não custaria nada e dormiria para sempre; tão bom. Era disso que eu estava a precisar ou seria de mais um pouco de gin? Mas para tomar os comprimidos eu precisava de beber alguma coisa e essa coisa estava também ali à mão; debaixo da cama, talvez também deitada no chão por cima do tapete; teria ainda algum líquido? O suficiente para engolir os comprimidos? Já não tinha forças para me levantar e ir buscar outra garrafa. A caixinha preta continuava ali e a minha mão já estava em cima dela. Senti aquela textura (penso que era marfim) sob os meus trémulos dedos mas senti-a fria e um arrepio percorreu-me a coluna; ou teria sido outro tipo de arrepio? Não sei quanto tempo estive com aquela caixinha na mão. Não sei quanto tempo demorei a tomar uma decisão. Não sei quanto tempo a olhei com um turvo olhar. Não sei porque razão não a segurei. Dei por mim a olhar para ela sem saber para que é que ela servia e naquele momento apenas me apeteceu dormir; tão perto do derradeiro sono; tão desejado; ali tão à mão... Reparei então que estava deitado sobre o lugar dela com o braço direito estendido para a mesinha de cabeceira segurando a caixinha preta que continha o passaporte para a derradeira viagem; tantas vezes assim estivemos; tantas vezes senti o seu calor, o seu respirar, o seu arfar; tantas vezes assim ficamos depois de fazermos amor. E, neste estúpido momento, repetia aquela posição estendendo a minha mão para uma viagem. Não consegui conter o choro; não consegui aguentar as lágrimas; não consegui segurar a caixinha preta. Não consegui partir. Restou-me a certeza que no dia seguinte teria mais uma noite de frio..."

28/11/2009

Quis ser um poeta

“…quis ser um poeta que tivesse asas… e poesia em cada voo… quis ser um poeta cujas palavras vos enchesse a casa… e que vos reencontrasse em cada dor… quis ser um poeta que fosse fogo e água e sol e terra… e que com todos esses elementos criasse um novo ser… mas há poetas que são simplesmente poetas… há poetas que ainda nem sabem que o são… há poetas… imensos… tentei um dia ser um desses poetas… e sei hoje que um poeta nunca morre… faz-se em vida mesmo na morte, soltam as asas e levam-vos o vento… protegem-vos e fazem-se ao caminho convosco… peregrinam em vós… que com ele caminhais… bebeis o sorriso dos poetas… vedes pelos seus olhos, e por detrás desses olhos, uma alma que brilha e ilumina cada recanto escuro da vossa própria alma… e é em dias de negro e frio que mais precisais dos poetas… porque eles são fonte, força e semente… um poeta nunca mente… ele, o poeta, é a vossa armadura, a vossa madrugada e o fim de tarde… a vossa lua nova ou lua cheia… são perenes todos os poetas… nascem e renascem… mesmo sem nunca morrerem… nada destrói um poeta, nem a voz nem o sentir… quis ser um desses poetas que tivesse asas e poesia em cada voo… podemos ser usados, abusados, até como lixo abandonados, enegrecidos e deturpados… simplesmente somos quem somos … podemos ser retalhados, citados e aviltados… podemos ser usados como arma de arremesso… podemos ser teorizados e complicados… podemos ser mistificados e cristalizados… podemos até servir de pasto em chamas inquisitoriais… não somos orações, nem homilias nem credos… e não nos deixamos cair… não somos ameaça do fim do mundo… não somos propriedade de ninguém… não somos espada nem guilhotina… não cabemos na pena nem no ódio de quem de nós se apropria… somos apenas poetas… somos simplesmente imensos… não cabemos em nenhuma semana nem em qualquer dia… somos de todos os tempos… não nos deixamos aprisionar por nenhuma alma negra… somos apenas asas… não somos anjos… somos apenas amor e amamos… e se agora sei, como tão bem sei, que as palavras vos podem fazem voar, que às vezes vos levam para lá do mar, em asas de vento, de dor e de amor… sei também, como sabem todos, que não há palavras nem versos, nem poesias que cheguem para transformar um poeta num anjo…”

27/11/2009

Moldura

"... na verdade, esta moldura é a minha prisão... de tão perfeitos traços me retrataste que me sinto afogada neles como se eles fossem a minha própria alma, o cerne do amor que nos inundava enquanto a vida me era dada para viver... lembras-te, meu amor, de todas aquelas cartas que te escrevi enquanto presa dentro de outras grades, linhas estreitas que me afastavam de ti ou que te afastaram de mim... nunca soube o porquê e essa dúvida, que ainda hoje, aqui de cima mantenho, será a minha companhia na eternidade... é ela também que me concede a possibilidade de te ver aí olhando-me aqui nesta parede nua, dentro de mim mesma vazia e tão prenhe de linhas com que me vestiste naquela manhã na cozinha no banco sentada, rindo-me da tua certeza... meu amor, a paz que me preenche não retira a dor que mantive e que comigo trouxe; a paz que me preenche é uma paz por amor a ti mas a dor essa jamais sairá de mim; é um pouco como eu nestes riscos presente na tua mente quando daí em baixo me olhas... resta-me a doçura da lágrima que vejo cair da tua face nesse chão carcomido pelo tempo que não nos foi concedido... dor de mim em teu peito também ele dorido..."

19/11/2009

6 anos

...o lobices nasceu nos blogues do sapo em 19 de Novembro de 2003
...faz hoje, 6 anos!...
...6 anos de letras, palavras, emoções e imagens
...6 anos de interacção com os demais Bloguers, Amigos e Anónimos
...6 anos de palavras escritas saídas destes dedos dedilhando no teclado
...entendi então, dar-lhe uma prenda:
...resolvi criar e oferecer-lhe o Lobices 4
...o lobices 4 que encerra toda a actividade desde o início e que irá dar continuidade ao mesmo, dentro dos mesmos termos e natureza
...estarei aqui por vós, para vós, por Amizade e doacção
...o meu abraço fraterno
...e lobices para todos
...bem-hajam

15/11/2009

Domingo de chuva

...hoje não existem fotografias para postar... não é que não as tenha... tenho-as... mas não me apetece... apenas aqui deixar umas breves palavras... dizer apenas que hoje é Domingo, cinzento, triste, frio, chuvoso... o vento sopra forte e não sei se do sul ou se do norte... bate nas persianas da casa em que habito e não choro apesar de existir um grito... o grito dentro de mim que não sai... a lágrima que não cai... e a dor que não se esvai... apenas subsiste, persiste neste Domingo de colorido tão triste... não existem fotografias para postar hoje... apenas porque não quero... só porque não sei o que quero... e o vento sopra forte e é o único som que ecoa no meu coração... é mais um dia a passar... começa assim, cinzento, logo pela manhã... olho estas teclas e não sei que fazer... fechar o post, talvez... carregar na tecla que manda publicar... hoje é Domingo, triste, chuvoso, cinzento, enevoado para dele se gostar... e eu não gosto dos dias assim, mas há-os, existem e estão dentro de mim...

11/11/2009

S. Martinho

...mais um dia 11 de Novembro... mais um Dia de S. Martinho no qual se comem castanhas e se bebe o vinho... mais um dia apenas... mais um dia...
...hoje não coloco imagem
...coloco apenas estas singelas palavras
...leves e sem grande alcance literário
...soltas
...libertas
...do jugo do hábito da fotografia
...hoje é apenas mais um dia...