31/10/2005

desenho

"...desenhei meu corpo nas águas profundas do rio que em mim corre e nele me percorri em tons de azul, cor do céu que nunca morre... desenhei minha alma nas ondas do poderoso mar que fora de mim se move e nele a desenhei em tons de branco nobre, leves, mas sóbrios... desenhei meu corpo em minha alma e a mistura se fundiu em tons vermelhos de puro sangue... e minha alma, pária de si própria, desenhou no meu corpo a felicidade de se saber comigo e não mais solitária... desenhei, por fim, no mais profundo de mim, um campo de flores, de todas as cores, exalando todos os perfumes, completamente preenchidas com todas as vossas dores..."
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(escrito em 1960)

28/10/2005

luminosidade


"...do meu sul me chega, através da vidraça da minha porta, neste meu canto sentado a escrever estas palavras, a luz imperfeita de um sol que teima furar o enevoado céu... quis apenas registar o momento..."

26/10/2005

words

"... houve um momento durante o qual as palavras lidas não me faziam sentido... era como se eu estivesse a ler algo que nunca tivesse lido mas ao mesmo tempo conhecesse em absoluto o seu teor e, daí, a estranheza de as ver ali... aos poucos, elas começaram a ter vida ao descobrir que mais não eram do que palavras que descreviam o meu próprio eu... reparei então que me desconhecia; se não as estava a entender é porque não me conhecia... sensação dura a de me ver ali estampado e dizer que de tão cego que estava não me estava a ver... sem aquelas palavras, possivelmente morreria sem me descobrir... hoje, exulto de alegria por me saber ali, nelas retratado e aqui, nelas vivo... obrigado..."

21/10/2005

cristiana

...Cristiana veio a seguir ao Nuno (meu primogénito)
...faz hoje 34 anos que me deu a alegria de ser pai mais uma vez
...longa caminhada esta que nos levou por estradas tão diversas
...sendas percorridas com risos e lágrimas
...metas que não estão escolhidas mas que serão atingidas
...com esperança no peito e um sorriso na alma
...parabéns filhota!
...um beijo muito grande

20/10/2005

momento

"...Há coisas que se devem guardar... Fixá-las bem dentro de nós e guardá-las para todo o sempre... São momentos que não mais vamos esquecer... Ontem, tive um desses momentos e quero-o guardar bem dentro do meu coração... São daqueles momentos que só nós mesmos podemos aquilatar da sua força, do seu tamanho, da sua grandeza, do seu poder, do valor que têm e do bem que nos fazem... Esse momento é meu... Está aqui guardado bem dentro do meu coração... Feliz..."

19/10/2005

perdoem


"...eu sei que uso e abuso das minhas rosas... mas hoje, mais uma vez, não resisti a esta beleza de um amarelo interior para um branco exterior... faltou-lhe apenas uma réstea de sol... mas tem todo o meu amor..."

16/10/2005

antever

“… o teu corpo de doce rosa doce, deitado no leito, de pura seda acetinada feito, exalava o perfume perfeito… deixava antever, sem te tocar nem sentir, o esbelto prazer de olhar para ele e bastar sorrir… mais não seria necessário se a força do desejo se quedasse por ali… mas a languidez da libido perfurava todo o sentido em te possuir… aproximei-me de ti sem te olhar e sem que me visses… era apenas um desejo que bastava que sorrisses para que eu parasse e não prosseguisse… mas os teus lábios carnudos abriram-se em pétalas desnudos e me sorriram num convite perfeito… o ardor estava ali, a teus pés e meu corpo teceu o desejado amor de tudo o que depois aconteceu… volteámos a alma, os sentidos, a voz rouca, o arfar da pele, o toque no teu mar e o saboroso doce a mel… perfurei tuas entranhas em doces movimentos com forças tamanhas que te fizeram sugar teus próprios gemidos… a doçura perdura dentro de nós e antevê-se nos nossos olhos o desejo de, novamente, a sós, voltarmos a ser um só corpo e um só desejo num derradeiro lampejo de profunda paz… o deleite do amor que ele nos traz…”

15/10/2005

sentimento

...penso que não será abuso postar, mais uma vez, uma das minhas rosas brancas, quando quero apenas dizer que estou:
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...FELIZ...

14/10/2005

guilherme


...e porque hoje o meu neto mais novo faz 4 anitos, aqui fica um beijo muito grande (como o sorriso dele) deste avô babado...

12/10/2005

enlevo

"...Toco-te com o meu olhar... Beijo-te leve com os meus dedos... E sinto teu doce palpitar... Num corpo cheio de medos... Olho-te com minhas mãos... E teço perfumes no ar... Onde ouves meus sussurros... Dizendo que te quero amar... Em teu rio que vem desse mar... Em tua Lua que me leva o luar... Nesse Sol que de tanto queimar... Me aquece a alma deste chorar... Perdido na sombra do querer... Acordar e olhar e te ver... Queda e bela a sorrir... Em borboletas que volteiam... Teus ombros de seda a cobrirem... Meus braços que te amparam... Tua face rosa doce que me ilumina... Este querer intenso deste sonho... Que ouço breve e depressa termina... Mas que duma esperança serena... Num eterno desejo em mim domina..."

10/10/2005

07/10/2005

sorriso

"...que o sorriso renasça das cinzas frias da vossa tristeza... que o sorriso vos aqueça... que o sorriso vos amacie... que o sorriso não feneça... que o sorriso na vossa face vos propicie a leveza da alegria de se ser e estar tal como somos... que o sorriso receba as lágrimas que vossos olhos brotam... que o sorriso se alargue a novos horizontes da vossa memória... que o sorriso seja límpido, cristalino, suave, doce... que o sorriso vos limpe a mágoa... que o sorriso sirva para vos sentirdes vivos... que o sorriso, por fim, faça outro alguém sorrir também..."

06/10/2005

ausente


"...sinto-me ausente de mim na presença constante do outro eu que me habita... sei que, quando quer, ainda hesita mas persiste na dual sensação de me conquistar ou repudiar... não sei como lhe ripostar, se com força ou se me deixe levar... deixar-me levar nos seus sonhos e perder as minhas realidades ou, pelo contrário, aperar-me na realidade e deixá-lo a ele sonhar sozinho... estranho caminho este de se ser uma presença e estar ausente dela ou será que sou uma ausência presente em mim mesmo?... Vou tentar descobrir e se nada encontrar, então vou-me rir de mim mesmo, rir às gargalhadas das presenças alheadas ou das ausências que me são apresentadas... tanto faz... qualquer delas me traz a quietude inquieta da minha própria ausência presente..."

05/10/2005

merecimento


"...Ama-se mesmo quem não nos ama e nos quer deixar... É na paciência, na persistência que se mede o amor... Amar é escolher amar... Depende de quem ama e não de quem é amado... Depende do esforço e disponibilidade de quem ama... Ninguém merece ser amado, porque ninguém pode deixar de merecer ser amado..."

04/10/2005

amarar


"... lanço-me inteiro no teu ventre dolente quente suave e virginoso... não me sinto lesado nem pecaminoso... leve e dourado nas tuas calmas águas ora lentas ora frementes... sinto-me vogar de mansinho na tua ternura, no teu carinho, no teu ser perene de quem à noite, sozinho, no seu recanto, vê fogo extinto, cinza fria... sou areia espraiada em teu manto... leva-me o sonho, ora belo ora medonho, num sentir que ainda amo esse teu ondular tão lindo e tão calmo..."

03/10/2005

amante

Basta ficar em pé, deitada,
Desperta, adormecida, de qualquer jeito,
Para recebe-lo.
Ele chega de qualquer parte, do horizonte,
Da noite, da semente das estrelas.
Vestido de vento,
Suas brisas esvoaçam...
Dos lábios emanam chamas perfumadas
E me beija na testa e me marca
Com gravação de candura
Se está na Grécia, ao redor de Safo,
Ao ouvir meu chamado, dali ausenta-se
Suas mãos desabam sobre o meu corpo
Orquídea de carícias em espiral.
E me afaga por dentro.
Alcança cada princípio da raiz dos meus cabelos,
Desliza até a guia dos meus pelos,
Imanta-me e o sangue arrepiado vai e vem.
Tudo gira mas o tino não se desvia.
Nada se obstrui.
A fronte desvela sua aurora.
Ele está na órbita da minha cabeça,
Sua sombra pousa luz nos meus ouvidos,
No nariz, nos olhos; amadurece minhas faces;
Passa pelos dentes esmaltando o sorriso;
Esquenta a língua;
Fere o diapasão da voz;
Faz esticar a pele dos tambores;
Até o limite da atmosfera, confere a afinação dos pássaros;
A acústica das águas;
Repassa o som das conchas;
O silêncio das folhas orvalhadas,
As notas baixas do altivo bambu;
O soprano da haste do capim;
Os sons da chuva caindo por sobre a madeira verde.
Influi na intensidade das vagas na minha aura,
Na rebentação das praias,
Nas pororocas, na piracema;
No tempo propício ao acasalamento dos insetos;
E no cio das gatas no telhado,
Das cadelas cortejadas por matilha rabugenta;
Ajuda na distribuição do pólen para a fecundação das flores;
Despeja seu hálito na masturbação das virgens
E gradua a paixão das noviças, futuras esposas de Cristo.
Suave envolvimento ele permite ocorrer em minha nuca,
Por trás dos lóbulos das orelhas

Massageia meus tímpanos com seus beijos;
Suas aragens incendiadas roçam meu queixo;
Esticam-se até os lábios e esquece ali um beijo;
E desaba pesando como espuma,
Demolindo átomo por átomo...os ombros;
O torso; ateia fogo nos elétrons dos meus mamilos;
Golpeia as costas com a marreta de suas pétalas;
Jasmins, lírios, cravos, rosas e musgos rebentam pelos flancos.
Anticólica desenfernizo a barriga;
Põe lenha na cadeira do meu plexo solar;
Meu coração arfa, contrações da rede pulmonar;
Implosão nas costelas;
A espinha de cobra da coluna vertebral reveste-se de peçonha;
Insinuo sob a pele o rastro de um silvo;
Arremesso a bifurcação da língua como tênue fita de linfa;
Apoia a cabeça da esfinge na maciez pinicante da púbis
Quais cisnes enamorados, entrelaçam-se tesão e pênis
Dentro, cascata e vulcão, iceberg e vapor;
Humores do pântano, galvanização do prepúcio;
Por trás da aurora, súbito mal de parkinson

Concentra-se em minha nádega;
Glândulas fora dos eixos, planetas desalinhados,
Estou completamente a espera;
Adjetivos nas coxas, conectivos dispersos pela vulva;
Uma aliteração apressa o desabrochar do clitóris.
Encavala-se nos meus ombros;
E mexe, e suspira e mexe;
A fenda quente, punhal em mim...
Abre-se mais descendo pelas costas;
Num impulso deixo-me penetrar.
Desde minha coroa;
Como regresso ao útero.
A membrana circular avança pela testa;
Toldo os olhos, cedo um pouco devido ao plano
Inclinado do nariz;
Retorno da onda para ganhar impulso;
O avanço atinge a manhã envolvendo o pescoço.
A partir desse ponto serpente engolindo a presa;
O ato é mais doloroso, inspiração em histeria;
Dificuldade para se encaixar nas omoplatas;
E de graça me rendo pela santa experiência;
Porque já me reveste como casca e luz;
Fonte profunda, termas de súlfur, gás, pureza:
Adianta-se casulo retardando a borboleta.
Já está quase no umbigo.
Mastigação impossível da ausência de gengivas;
Só tecido e húmus;
Ruminação vagarosa da flor carnívora;
Efervescência da pélvis;
E o silêncio amplifica um concerto;
Engole a parte glútea.
Tritura as coxas; desloca as rótulas;
Eteriza fêmur e raízes venais, poros;
Macera canelas, amacia calos e calcanhares...
Para vencer o limite dos pés;
Inteiro me comprime e me espreme;
E jardins escapam pelo hiato das respirações;
O sol enlouquece desejando enforcar a noite;
Ele mexe o tempo, embaralha as estrelas;
Realizamo-nos selo mútuo;
Jamais me libertarei, e ele, por sua vez;
Está fadado a me possuir até que eu morra;
Quando enfim este meu amante me fará imortal;
A que ora engendro e adoro, servo fiel
De quem também sou cativa, senhora sua;
Com quem eu gozo e depois me abraço
Até brotarem glebas de fungos e lodo entre nós;
A luz envelhecida pousa em cada conjunção;
Abandonando a sombra de diamante em cada imagem;
E contas de cristal nos termos de comparação;
Este homem que para falar seu nome;
Preciso perfumar a boca e lustrar as botas da garganta;
Este homem para quem me guardo...
Este homem para quem me entrego...
Este homem, por quem sempre esperei....

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(from: M. V. Virgino)