19/03/2009

Dia do Pai

"...já faz mais de 22 anos que partiste... Estás noutro local, um local para onde foste, um local de sossego, de paz, não é ?... Tenho saudades tuas, pai !... Lembras-te do dia em que nos disseste até breve ?... Lembras-te dos dias em que sempre estiveste a nosso lado, lembras-te de tudo de bom que se passou antes de ires, lembras-te de tudo de mau que se passou antes de ires ?... Recordas o dia em que eu nasci, recordas o dia em que passaste ao estatuto de pai ?... Sei perfeitamente que te recordas e que só por isso te valeu a pena viver; sei que viveste em função dos teus, daqueles que faziam parte da tua própria vida, daqueles que eram a razão da tua existência!... Sei muito bem o quanto sofreste por mim e por todos os teus; sei perfeitamente o quanto lutaste para que nada me faltasse, para que tudo estivesse sempre bem... Lembras-te do dia em que te faltou algo para que eu não sentisse essa falta ?... Lembras-te do dia em que não comeste para que eu tivesse comida ?... Lembras-te do dia em que poupaste nos cigarritos para que eu tivesse dinheiro para o meu tabaco ?... Lembras-te do dia em que tiveste de pedir a um amigo para teres dinheiro para mim ?... Lembras-te do dia, de todos os dias da tua vida em que passaste mal para que em todos os dias da minha vida eu passasse bem ?... Lembras-te ?... Sei que te lembras e sei que sabes que tenho saudades tuas... um beijo para ti, pai!..."

12/03/2009

Dentro de mim

“… trago-te dentro do meu peito escudada por ternos laços de afeição, de carinho e de paixão… trago-te no meu peito acolhida por todos os laços de serenidade e amor, num cabaz de tudo o que a paz nos pode tornar em seres felizes sem dor… trago-te no meu coração guardada em pétalas de azul celeste de douradas cores que ao longo dos tempos me deste… trago-te em ternuras embrulhada de coloridas sensações de tudo o que a tua presença me dá… trago-te dentro de mim ao sabor do que sinto que vive em ti e que pressinto saber-te dona do meu ser num estado de prazer, de tudo o que me é permito ter… trago-te dentro do meu coração, numa prece, ou oração, num saber que amar é o que te dou e o que recebo em troca numa deliciosa flor, seja ela qual for, mas que representa sempre e para sempre o presente de tudo o que me dás… tenho-te dentro de mim com serenidade e tudo o que representa amor em paz…”

11/03/2009

Do meu quintal

Queria apenas ser o teu sonho

“...em frente ao espelho da cómoda do teu quarto, sentada num banquinho forrado a tecido de cortinado vermelho, penteavas os teus cabelos, num ritual que funciona mesmo sem dares por isso... a escova passava ora uma, ora duas vezes, de cima para baixo e alisava os teus cabelos sedosos, cor de mel e de marfim... brilhavam no espelho e te revias momento a momento numa expectativa de mudança, o que não acontecia pois não podias ficar mais bela do que aquilo que já eras... a beleza em ti não residia nem morava... era!... a tua camisa de noite, acetinada bege, de rendas sobre o peito alvo de seios firmes e redondos, deixava transparecer a cor da tua pele suave e doce ao olhar sem ser preciso tocar... a tua cama de lençóis de prata, aguardava o teu corpo numa ânsia lasciva de quem à noite, só, te espera num desespero de intocabilidade... e tu, demoravas... da cómoda tiraste um frasquinho de perfume e te ungiste com ele o que provocou um agradável respirar a todos os móveis que te rodeavam... e a tua cama, ansiava pela tua presença... e o teu corpo demorava a conceder-lhe esse desejo... levantaste-te de frente do espelho e te miraste novamente de corpo inteiro e gostaste da tua imagem alva e bela naquele quarto iluminado pela tua presença... olhaste de soslaio e sorriste... sentaste-te na beira da cama e esta suspirou docemente perante a antevisão de que breve te possuiria... tiraste os teus pezinhos leves de dentro dos chinelos de cetim vermelho, levantaste um pouco o lençol e te entregaste total e lentamente ao prazer de estender do teu corpo e da entrega final ao teu leito... a tua cama nem sequer se moveu... aquietou-se para não te perturbar, para que não te arrependesses daquilo que acabaras de fazer, com medo que te levantasses e ela te voltasse a perder... a tua cama inspirou baixinho a fragrância do cheiro da tua pele e deixou-se ficar aguardando o teu próximo movimento... deitada de bruços te deixaste finalmente ficar e tua cabeça leve pousada de mansinho na almofada, arfava lentamente o teu respirar de prazer por mais uma noite de descanso e de sonhos... teus olhos semicerrados viram a lâmpada acesa e teu braço se estendeu ao interruptor da mesinha de cabeceira para a desligar… os teus movimentos eram propositadamente lentos para que o tempo demorasse ainda mais do que aquele que já existia... e a tua cama sentia... na obscuridade do teu quarto, teus olhos semicerrados olharam o tecto e se fixaram na sua alva cor que permitia uma réstia de luz no meio da escuridão... olhaste a janela e pelas frinchas da persiana, divisaste a luz cinzenta duma lua crescente... avizinhava-se uma noite de lua cheia e teu corpo descansou por um momento... a tua cama então suspirou e te abraçou fortemente... em suas mãos te acabavas de entregar... e o sono chegou.... adormeceste... não sei mais o que se passou... a noite decorreu, teu corpo diversas vezes se moveu... a tua cama não se movia, com receio de te acordar… abraçava-te sempre para não te deixar fugir... sentia-te sua e possuía-te num sonho imenso de impossibilidade, de impotência, de raiva, por não te conseguir ter tendo-te ali... tua mente adormecida, movia-se e sabia-se que sonhavas... a tua cama te tinha ali, indefesa, sozinha... sonhavas e eu aqui, nada mais te pedia... nada mais desejava... queria apenas ser o teu sonho...”

09/03/2009

Tela

“…gosto de desenhar no meu corpo a pura entrega de quem ama… gosto de desenhar na minha alma a luz dessa verdade… escrever com os meus olhos a leitura da saudade… garatujar nos sons as palavras sussurradas… saborear na boca, nos lábios a doçura do mel do teu beijo desenhado desejo de quem procura o abraço esperado… gosto de desenhar nos teus ouvidos as letras que formam os sentidos… desenhar, por fim, já por sobre o esboço da obra final de quem no auge do encontro sente-se sonho sabendo ser real… pairar na tela do teu corpo e desenhar as cores do amor que num todo se move completo no ser que temos por modelo… e sendo-o, tê-lo, possuí-lo e transformar a obra num plano final que dá ao desenho o toque especial como que uma assinatura sobre a obra acabada… depois, ficar a mirar tudo o que havia sido feito para ter ali, na minha frente, a concretização do sonho e saber que todas as palavras ditas ou as desenhadas ou as escritas houveram sido assimiladas, saboreadas e entendidas como brotadas de dentro do meu ser… gosto de desenhar sim, no teu corpo, o meu eu e no fim ao olhar a tela preenchida em ti soubesse ali ter tudo o que havias querido da presença do meu amor…”

06/03/2009

Porque te amo?

“…amo-te porque te amo… porque me sinto bem quanto te olho… quanto te toco… quando te beijo… quando sinto a tua pele perfumada junto da minha… quando te vejo sorrir para mim… quando ouço a tua voz… quando te ris… quando me tocas, me acaricias e me fazes sentir homem… amo-te quando me dizes que também me amas, quando me dizes gostar de mim, quando me olhas e vejo no teu olhar a tua alma e o reflexo da minha… quando sabemos que nada mais no mundo nos importa… quando sentimos que tudo o que gira à nossa volta está parado e somos o centro de tudo… amo-te quando te digo que te amo, quando te sussurro palavras ternas, quando ouço as que me dizes… amo-te quando me dás um mimo, um sabor, o roçar ao de leve ou mesmo forte… amo-te porque te amo… porque te sinto bem quando me olhas… quando me tocas… quando me beijas… quando sinto que sentes a minha pele… quando te sorrio… quando ouves a minha voz… quando me rio… quando te toco, quando te acaricio e te faço sentir voar… amo-te quando estou aqui ou aí… amo-te mesmo quando não estamos ou não somos… amo-te porque sei que te amo, porque sinto que te amo, porque vivo esse amor duma forma terna, doce, suave e pura mesmo quando os corpos se entrelaçam e vibram em loucura… amo-te assim, tão simples…tão tudo em ti e em mim…”

04/03/2009

Nudez

"... porque te sentas de pernas cruzadas sobre a nudez do teu silêncio?... para te ouvires desejando não ouvir o que não és capaz de pensar?... porque te sentas de costas voltadas à treva se da treva vem a luz que te cega?... para não olhares, para não veres o que sempre desejaste ver?... porque me dizes que sim quando do teu peito sai um gritante não?... para não teres de balbuciar um talvez?...porque pensas que pensas o que não pensas?... para pensares no que eu penso que tu pensas?... não, o melhor é mesmo não pensares… porque sentes que a vida te foge por entre os dedos se as tuas mãos estão presas e cheias de dúvidas?... porque desejas libertação se o que intimamente queres é estar quieta na bonomia do turbilhão?... porque calas o teu grito se do fundo da tua mansarda revelas a negrura da alma que te compõe o sentir?... porque não mentes se é tão doce mentir?... porque não calcas a doçura do mel?... porque não espezinhas a palavra calada?... porque não escreves o nada que tens para dizer?... que te disse eu que tu já não soubesses?... aprendeste algo mais para além daquilo que já não sabias?... que sabes tu da ignorância que te cerca se a certeza de saber é apenas uma incógnita que nos abala a consciência de nada sabermos, ou apenas de sabermos que nada sabemos?... porque te manténs sentada de pernas cruzadas sobre a nudez do teu silêncio?..."