24/09/2010

Agarrar o tempo

“…e os dias escorrem por entre os meus dedos e não os consigo agarrar… e as horas se esvaem em momentos de saudade e de desejos de presença… e os minutos contam quando se pensa no que queremos que seja e sentimos não poder ser… até que surge o momento em que o encontro se apraz nele mesmo e nos delicia com todos os segundos que o toque nos propicia… e os dias que escorrem pelos dedos deixam de existir e a paz volta a fazer-nos sorrir… e o ciclo continua numa luta de vontades e de saudades… as idas e as vindas e o abraço da chegada e o abraço da partida… ambos transmitem o mesmo mas com sentido diferente… ambos são enlaces mas um traz o sorriso e o outro leva a lágrima… até que nova vinda que nos anima surja após os dias que escorrem pelos meus dedos… e, nessa altura, desaparecem todos os medos e fica apenas a troca dos segredos que guardados foram nos momentos que escorreram pelos dedos… e esses breves dias que tão rápidos passam por nós, trazem-nos os sorrisos, os beijos, os abraços e sabemos que não estamos sós… temo-nos um ao outro, por tempo que sabemos ser pouco mas que vale pela ânsia daqueles que nos escorrem pelos dedos… e o beijo sela a doçura do tempo em que a dor perdura na esperança que depressa passe a amargura dos dias que nos escorrem pelos dedos e não os conseguimos segurar… sabemos apenas que, pelo menos, amar a cada segundo que passa é uma bênção que fica cá dentro e não foge como o tempo que gostaríamos de prender… mas a dor da ausência ajuda-nos a vencer…”

18/09/2010

Amar como o vento

"...Em cada relação que começa, a vida e o amor renascem. A paixão coloca cada pessoa num ponto alto e excepcional, inevitável e imperdível. Gostosamente. Mas as pessoas no seu melhor vêm depois, às vezes muito depois, quando se chora e luta, quando se aceita e se resiste, quando se constrói e quando se acredita. As verdadeiras relações, os grandes amores são sempre virtuais. Não por serem irreais, antes por serem imateriais, apesar de nos darem a ilusão de um corpo, de um suporte material que tocamos e possuímos, que acreditamos nosso, real, físico, material. Sentimos amor, quase conseguimos tocar, agarrar essa sensação. Dizemos convictos que é real. Olhamos o outro nos olhos e parece real, parece que o outro ali está e nos ama mais que nós... Mas ver, sentir, tocar, são formas de aceder ao amor, ascensores, facilitadores. Difícil mesmo é planar. As relações são feitas de ar, planar. É no vento que se ama. Talvez ser o próprio vento, e não a folha. Vê-se melhor o que é amar quando é difícil amar, aceitar que é sempre mais do que improvavelmente, um esforço, um desejo, um empenho pessoal em algo que materialmente não existe, não é palpável nem mesmo se sente. Nunca se ama realmente, a realidade do amor é nunca ser real. Virtual. No dia a dia, corpo a corpo, sonha-se o amor, sonha-se um amor virtual, que se não for virtual não é amor. Virtual porque não depende da presença do outro, da aparência do outro, do comportamento do outro. Um amar que perdura e se sustenta (Vento) mesmo quando não vemos o outro. Amar é memória, antecipação e crença profunda em memórias que hão-de vir. Virar a cara a quem nos vira a cara, sabemos todos que é real, bem concrecto, mas não é amar. Ama-se mesmo quem não nos ama e nos quer deixar. É na paciência, na persistência que se mede o amor. Amar é escolher amar. Depende de quem ama e não de quem é amado. Depende do esforço e disponibilidade de quem ama. Ninguém merece ser amado, porque ninguém pode deixar de merecer ser amado. Não depende do mérito, não depende do comportamento, não se vê nem se comprova. Posso ter que silenciar, posso ter de partir... vai comigo o amor..."

12/09/2010

Novas palavras

“… quisera escrever palavras que ainda não tivessem sido ditas ou escritas porque ainda não inventadas e dedicar-tas só para ti… dizer-te palavras diferentes de todas as que já foram ditas, escritas, reditas e reescritas… poder sentir que aquelas palavras eram só para ti e que mais ninguém as houvera lido ainda nem sequer sido sonhadas porque não inventadas nem rotuladas com significados óbvios… poder sentir que o destino delas era único e que mais ninguém se pudesse apropriar delas porque seriam apenas tuas… poder sentir que nada do que pudesse até então ter sido dito havia sido repetido… seriam palavras para escrever um livro onde nele descrevesse tudo o que estivesse na minha Alma e nunca houvera dela saído para o exterior… seriam sim claro, palavras de amor… mas essas existem em todo o lado, estão espalhadas pelo espaço de todos os pontos cardeais, em todos os cantos, dirigidas em todos os sentidos, conduzindo o Amor para a sua simplicidade ainda que indolor… seriam sim claro, palavras de ternura, de carinho, de afago, de candura, de puro desejo de as sorver num só trago e mais não existissem excepto no teu coração pois para ele elas haviam sido dirigidas… queria sim escrevê-las num só fôlego, num só dizer, num só escrever, numa só direcção e saber que as havias recebido, sentido e digerido dentro do teu ser… palavras escritas para mais ninguém as ler… só tu as receberias e as sentirias porque saberias que te pertenciam… queria, pois, inventar novas palavras que exprimissem o que já sabes sem eu as escrever porque tas digo ao ouvido, porque tas entrego no corpo, porque elas se entranham em ti vindas de mim, num crescendo de Amor sem palavras ditas ou escritas de cor, apenas sentidas pelo teu existir… dessa forma, não necessito de as inventar porque elas já existem dentro de ti quando as entendes no momento em que não as pronunciando, a ti somente as entrego… fico assim sem necessidade de as escrever porque elas mais não são do que o sentir em mim a força do âmago do teu ser…”

11/09/2010

Uma carta de amor

“…tens razão, meu amor: nunca te escrevi uma carta de amor… interessante notar que mesmo num tom frio dito assim, sinto a dureza do saber que algo tão simples ainda não foi feito… talvez não tenha jeito… ou será apenas preconceito?... mas, na verdade, nunca te escrevi uma carta de amor, daquelas que levam as mágoas e as saudades em torrentes turvas de rios alterosos em direcção a um mar onde o horizonte se confunde com as cores de majestosos tons… são cartas de amor em que as palavras se confundem com os sentimentos que queremos transmitir e não os sabemos… são cartas de amor em que as palavras se misturam numa amálgama de tonalidades que não duram… são cartas de amor que perduram no tempo sem um lamento mas onde o sentir de um breve sentimento mais não é do que o dizer da palavra em dado momento… são cartas de amor que não escapam ao estereotipo dos sons que se ouvem na escrita e se escrevem com a voz… o som que se debate dentro de nós sem sabermos que já não temos o poder de gritar a sós… cartas de amor dizendo o que não é preciso dizer… cartas de amor falando de coisas que sabemos sentir, possuir, ver… cartas de amor com palavras que transmitem o toque, o cheiro, a visão, o sabor e a audição dos nossos corpos em fusão… na verdade, meu amor, nunca te escrevi uma carta de amor… uma carta que repetisse o que desde o início sempre te disse: que te amo… para quê então, meu bem, escrever o que já se sabe, o que já se tem?... mas um dia vou tentar escrever-te uma carta de amor, uma carta que te leve as palavras que me preenchem e se derramem sobre ti num sabor a tudo o que qualquer homem e mulher podem querer: que se amem a valer sem preciso ter de escrever uma carta de amor, perfeita, bela, cheia de luz e de cor…”

10/09/2010

Porque te amo ?

“…amo-te porque te amo… porque me sinto bem quanto te olho… quanto te toco… quando te beijo… quando sinto a tua pele perfumada junto da minha… quando te vejo sorrir para mim… quando ouço a tua voz… quando te ris… quando me tocas, me acaricias e me fazes sentir homem… amo-te quando me dizes que também me amas, quando me dizes gostar de mim, quando me olhas e vejo no teu olhar a tua alma e o reflexo da minha… quando sabemos que nada mais no mundo nos importa… quando sentimos que tudo o que gira à nossa volta está parado e somos o centro de tudo… amo-te quando te digo que te amo, quando te sussurro palavras ternas, quando ouço as que me dizes… amo-te quando me dás um mimo, um sabor, o roçar ao de leve ou mesmo forte… amo-te porque te amo… porque te sinto bem quando me olhas… quando me tocas… quando me beijas… quando sinto que sentes a minha pele… quando te sorrio… quando ouves a minha voz… quando me rio… quando te toco, quando te acaricio e te faço sentir voar… amo-te quando estou aqui ou aí… amo-te mesmo quando não estamos ou não somos… amo-te porque sei que te amo, porque sinto que te amo, porque vivo esse amor duma forma terna, doce, suave e pura mesmo quando os corpos se entrelaçam e vibram em loucura… amo-te assim, tão simples…tão tudo em ti e em mim…”

09/09/2010

Lágrima

“…ele olhou-a nos olhos e viu uma tristeza profunda na alma ou lá onde é que a tristeza ou a alegria se instalam às vezes em nós… ele olhou-a nos olhos e viu o que ainda não tinha visto: a mágoa de não ser o que queria ser, a dor de não poder, o sofrimento do desejo insatisfeito ou ainda do satisfeito não desejado… olhou-a bem nos olhos e viu-a chorar por dentro sem que uma lágrima bailasse nas pálpebras tão serenamente abertas… olhou-a uma vez mais, sem pressas (ou altivez como quem percebe o que está a fazer, ou a sentir ou ainda a ver), com vagar, com doçura, com precisão… sentiu-lhe a pulsação acelerada quando lhe pegou na mão… tinha-a fria, quase gelada e aquele olhar tão triste ainda mais fria tornava aquela mão… pegou nela e levou-a até ao seu peito… espalmou-a bem de encontro à sua pele em peito nu e com a outra mão cobriu as costas dela forçando-a a ficar ali para que o calor a invadisse… não, nada lhe disse… ficou assim, olhando bem fundo dentro dela… aproximou a sua boca da boca dela, muito lentamente, e muito ao de leve pousou lá um beijo… nesse momento, sentiu nos seus lábios o sabor salgado de uma lágrima… saboreou o gosto e pousou-lhe a cabeça pendida no ombro… apertou-a contra ele e deixou-se ficar assim, juntos… um momento eterno para lembrar se tivesse sido filmado naquele momento… seria uma pose a lembrar para o resto da eternidade… sentiu a mão dela a aquecer e a sua face enrubescer num lento esgar de um sorriso… viu então o seu olhar, até ali perdido, encontrar-se em algum lugar… talvez dentro de si mesma, talvez dentro dele, talvez na fusão dos dois, não interessava, mas ele, o sorriso, ali se encontrava, um sorriso que brotava do calor dos corpos ou do bater de dois corações que se amam e tudo entendem… ele sorriu também, os corpos se moveram e se convulsionaram num espasmo de espanto e de sabor a tudo e a tanto… o doce sabor do perdão… o doce sabor da gratidão… o doce paladar do encontro, do confronto, do calor do ombro deixado de ser almofada para se tornar parte do abraço… e o riso se instalou num suave embalar dos dois ao mesmo tempo que aquela lágrima ficara lá, em lugar distante, perdida, a secar…”

03/09/2010

Adormecendo

“… deixa enroscar-me nos teus braços… coloca tua mão na minha cabeça e enrola os teus dedos nos meus raros cabelos… baixa um pouco a tua fronte e beija a minha boca… deixa enroscar-me no teu colo… sentir a tua maciez e ver de baixo para cima o teu sorriso… ver-te junto a mim e saber-te ali comigo… de tal forma que quando olhas eu sou o teu olhar… de tal forma que quando sorris eu sou os teus lábios… de tal forma que quando me afagas eu sou a tua mão… de tal forma que quando me tocas eu sou o teu corpo… de tal forma que quando me olhas eu sou o teu olhar… deixa pousar o meu cansaço na tua serenidade e sentir a tua paz na minha guerra… baixar as armas e sentir a trégua na tenda que se ergue no deserto da batalha… humedecer as mãos na brisa da água que corre no ribeiro que nos circunda… lavar a cara na frescura do vento que nos embala… sentir que nem tudo é real mas que o sonho nos preenche… sentir que, por vezes, só o desejo chega, só o querer basta, só o pensar nos satisfaz… deixa-me ser não só a realidade mas também o que não somos… deixa-me olhar para dentro de ti e ver-me inteiro… deixa-me tocar-te com o sonho e saber-me parte dele como sei que ele é uma parte do meu eu verdadeiro…”