30/12/2011

Status

"...com um pouco de loucura, viajo dentro de mim, olhando o meio em que me enleio, adicionando à vida um pouco de ternura, e parto à procura do dia em que me encontre pleno de mim mesmo, sem culpas nem perdões, apenas com laços de paz e bons e apertados abraços de solidões presentes nestes eternos momentos de carinhos ausentes..."

15/12/2011

Quando sabemos que se ama?

“… há dias escrevi-te dizendo as razões pelas quais te amo… escrevi dizendo, afinal, que te amo porque te amo… mais tarde comecei a pensar se existe um momento a partir do qual se começa a amar e se esse momento existe, como sabemos então que se ama?... disse-te também há tempos que o amor não tem tempo nem espaço pela simples razão de que o Amor apenas, é… vive, subsiste, existe, está… é algo definido, concreto mesmo não sendo físico nem metafísico, o Amor é algo que é… sendo assim, não tendo o Amor tempo nem espaço e sabendo nós que amamos, como se sabe que se ama?... dediquei todo o tempo da minha vida à procura do Amor, na busca constante do meu “Graal”, na demanda do porquê do se ser e do se estar e das razões pelas quais aqui estamos… durante todos esses anos procurei e um dia (não interessa quando porque o Amor não tem tempo nem espaço) descobri que o Amor está (é) em cada um de nós… não é nada que se descubra ou possua ou se encontre… ele, o Amor, está em nós mesmos… se ele está em nós então ele é nosso, de nossa pertença e faremos dele o que bem se quiser… daí que, quando afirmo as razões pelas quais eu te amo, estou ao mesmo tempo a dizer que te amo apenas porque sei que o Amor que está dentro de mim, passa para ti… deixa de ser “meu” e começa a “existir” em ti porque apenas e só, te doo esse Amor, numa entrega sem pedir troca… dando-o, sei que o dou e nesse momento passo a saber que te amo… assim, só existe uma única forma de sabermos se amamos (ou quando é que sabemos que estamos a amar), é sabendo que o Amor que estava em nós foi dado a outrem, entregue simplesmente, como dádiva… e esse Amor pode estar num simples gesto, num olhar, num acenar, num toque, num sentir, não se ser o que éramos e passarmos a ser de outrem… nesse momento, quando nos sentirmos parte do outro, saberemos que estamos a amar… em contrapartida, quando soubermos que fazemos parte de outrem também saberemos que estamos a ser amados… porque apenas e só, o Amor… é...”

12/12/2011

Transformar

"...peguei em mim mesmo e sacudi-me; esperei que saisse algo que tivesse a mais; mas não caiu nada de mim; continuei a sacudir e ouvi algo indefinido; era como que uma recordação dentro da minha alma ou do meu coração; como saber?... Peguei então em ti e despi-me de ti; tirei-te de dentro de mim. Coloquei-te ali ao meu lado e olhei para ti. Foi nessa altura que me senti nú. Mas não consegui vestir-te de novo. Já não cabias dentro de mim. Que fazer então?
...sonhos destruidos, caminhos não percorridos ou teriam sido mesmo percorridos? Como é que não reconheço se os percorri ou não? Confusão dentro de mim.
...sacudo as memórias mas a força centrífuga da saudade as mantêm aqui dentro. Fico atento.
...espero olhar em frente, não me sentir demente, talvez solidão somente; eternamente aqui ao meu lado presente.
...arrumo os fatos que me vestem a alma e com calma procuro novas roupas que me tapem a nudez que me enregela o corpo, como nado morto, triste e absorto...
...quero ressuscitar, quero simplesmente me transformar, vestir-me de novo, olhar para o espelho e sorrir, cantar, bailar; pegar em mim e voltar a caminhar qualquer que seja o caminho que tenha ainda de palmilhar...
...é que os pés, mesmo de barro, ainda são os mesmos; cansados de andar, é certo, mas os que sempre me sustentaram de pé nesta tremenda e actual falta de fé...

09/12/2011

Perdurar

"... e o amor não se esgota nos momentos em que os amantes se encontram... o amor perdura para além deles, dos momentos e dos próprios amantes... o amor fica em cada um como uma marca no tempo que vai para lá do tempo em que foi... o amor vai com cada um e reaje ao menor sinal de memória... reactiva-se a si próprio quando já lá não está, naquele momento em que se ama... eleva-se para além da sua meta e tenta chegar ao momento seguinte, momento esse que não se sabe se vai existir mas que se deseja e do qual se sabe apenas que será um novo momento... o amor não se esgota no momento em que os corpos se esgotam e descansam... o amor vai além desse esvair porque se não for nunca será amor... o amor não se esgota no peito de cada um porque continua na memória de ambos... o amor é isso, é saber que não foi só e apenas aquele momento... o amor prolonga-se a si próprio para além de si mesmo e daqueles que o vivem... o amor está para lá do próprio amor..."

08/12/2011

ANIVERSÁRIO

...Hoje, dia 8 de Dezembro de 2011, completo 66 anos de vida... espero durar ainda mais alguns mas que sejam de prosperidade para o meu País... ando nestes blogues há mais de 8 anos, na vossa companhia, com a vossa Amizade... espero que assim continue

05/12/2011

Ensaio sobre a solidão

“…depressa me canso de mim… olho à minha volta e só vejo recordações… uma terna claridade invade o meu quarto e me rodeia de mansinho… já reparei várias vezes: vem sempre acompanhada do silêncio!… nunca soube o porquê de tal evento… é uma luz difusa, lenta, como que surgindo a medo e com ela, um opaco silêncio… algo que nada traz a não ser paz… mas trazê-la já é bom… e é nesses momentos que me sinto só… e sabem porquê?… porque não tenho com quem partilhar esse momento!… algo que sempre desejei fazer um dia na minha vida: partilhar a minha solidão… dizer a alguém: “…Vês?… Estás a ouvir?… A minha solidão está aqui, é isto que vive aqui comigo… Entendes?…”… mas nunca consegui e nunca o consegui porque nos momentos em que a solidão me visita eu nunca estou acompanhado… engano, estar acompanhado estou mas apenas de mim mesmo e dessa luz e desse silêncio… já somos três… estendo-me então no leito dessa luz e deixo-me levar pelo barulho do silêncio que me invade… nunca é tarde para experimentar novas sensações, só que esta é já demasiadamente minha conhecida e então apenas nos olhamos e nos aceitamos mutuamente… nada mais fazemos senão partilhar aquele momento, uma partilha a três numa solidão solitária de um só… estendido nela e com o silêncio deitado a meu lado, olhamos o tecto que lentamente se separa de nós em tons de cinzentos cada vez mais escuros… passo os braços pelo silêncio e aperto-o de encontro ao meu peito… sinto o seu respirar lento e compassado… é um som simpático, eu sei, mas ao mesmo tempo ousado na medida em que invade o som do bater do meu coração… e o silêncio deixa de ser silêncio para ser um baque surdo ritmado aqui, ao meu lado, deitado… no entanto, continuo abraçado a ele e ele sente-se bem porque acarinhado… é um abraço puro mas forte… ingénuo mas apaixonado… é apenas um abraço de silêncio compartilhado num leito de claridade a escurecer em lentos tons que tem o anoitecer… porém, já quando o tecto se separa de nós e nos abandona entregues que ficámos à luz das trevas que entretanto nos envolvem, o silêncio se aperta contra mim e me possui… penetra-me fundo e a respiração torna-se ofegante, sufocante… o que até então era um prazer compartilhado passa a ser dor e algo que corrompe… penetra-me cada vez mais fundo e a dor aumenta… o bater e o som do meu coração ultrapassa o silêncio que entretanto se esvai num orgasmo de sons delirantes de espasmos gigantes que se avolumam dentro de mim… o tecto já não existe, a obscuridade ainda persiste com mais intensidade… é um estar sem vida, sem morte e sem idade… apenas habita em mim numa eterna cumplicidade… respiro o espaço que me rodeia… e a escuridão cai sobre tudo e me envolve como uma teia… já tenho mais uma companhia… o doce sono vem de mansinho amparar meu corpo e cobre-o com carinho… adormeço lento, extenuado de tanta amargura, numa vã procura do próximo amanhecer que de novo me vai trazer o fim de tarde, neste terno ciclo de amor e ódio em que espero pela eternidade…”

04/12/2011

Agir

"...quantas e quantas vezes, ou talvez não, pedimos um milagre... algo que nos mude a vida para melhor, algo que nos faça deixar de sofrer, algo que nos tire a lágrima que teima em correr, algo que nos permita sorrir para sempre e não mais ser dor... quantas e quantas vezes, ou talvez não, pedimos um milagre... algo que nos modifique a forma de ser, de podermos ser melhores ou até mesmo de podermos ajudar os outros... algo que tire o sofrimento no mundo, algo que permita a paz entre as pessoas... quantas e quantas vezes, ou talvez não, pedimos um milagre... um milagre para nós!... Estamos sempre a pedir um milagre na nossa vida; estamos sempre a pedir um milagre que nos tire a dúvida, a dor, a fome, o desânimo, a doença e tantas outras coisas que nos atormentam... tantas e tantas vezes e o milagre não vem e amaldiçoamos a prece por ela não ser ouvida... talvez fosse melhor não pedir um milagre... talvez fosse melhor sermos nós próprios o próprio milagre: mudarmos a nossa maneira de sentir o que somos e passar a sentirmos o que queremos ser; talvez nos baste sentir o que queremos e alegrarmo-nos com o que temos, com o que nos é dado usufruir... talvez nos baste sentir o que queremos ser e sermos o próprio milagre... quantas e quantas vezes, ou talvez não, pedimos um milagre e esquecemo-nos de o "fazer", de o "elaborar", de o "conquistar"... de sermos nós a agir..."

30/11/2011

Seduzir

"...talvez seja essa tua força, invisível aos olhos humanos, que me seduz... talvez sejam apenas os teus olhos ou até mesmo, como já o tenho dito muitas vezes, a tua boca... talvez seja essa tua fragilidade ou essa tua doçura... talvez a tua ingenuidade ou até mesmo a tua garra... talvez a tua voz ou mesmo até o teu silêncio... talvez o teu tudo ou o teu nada... talvez seja essa tua pose de fazer face à luta ou a tua lágrima sentida... talvez a tua revolta ou até mesmo a tua cedência... talvez apenas o teu toque, o teu cheiro ou o teu beijo... talvez apenas o seres apenas tu e eu ser apenas eu... mas que me seduzes de verdade, não o posso negar..."

29/11/2011

Recomeço

"...tenho saudades tuas... queria ter-te aqui comigo, a meu lado, de mãos dadas ou de olhos nos olhos... cingir-te a cintura e apertar-te contra mim e sentir teu corpo... desejar o teu desejo... ouvir teu coração bater com a minha face sobre o teu peito... beijar-te a boca e saber-me dentro de ti... sentir-me mais uma vez como as muitas que senti... tenho saudades tuas... chamar pelo teu nome... ouvir a minha voz pronunciar esse som e saber-me respondido com o teu sorrir... estar onde estás e saber-me contigo, aberto de mim para te receber em plenitude... entrar no teu ser e saber-me lá residente, não ontem nem hoje mas, sempre... perder-me no teu labirinto e jamais encontrar a saída... viver os caminhos e as esquinas que se cruzassem à nossa frente e deixar de conhecer o tempo que nos cerca... olvidar a dor da ausência do teu doce amar.Tenho saudades tuas..."

19/11/2011

FIM... de 8 anos de bloguices

"... a 19 de Novembro de 2003, no Sapo, nascia timidamente o blogue «lobices»... cresceu, foi caminhando através de palavras e imagens até que um dia passou para o Blogger... um dia cansou, e ao fazer anos quase morreu não fosse ter nascido logo a seguir o «lobices-4» (este que aqui está)... hoje, 19 de Novembro de 2011, oito anos passados entre vós, eis que chega o momento de parar para descansar um pouco... talvez um tempo de gestação para um «lobices-5» quem sabe... mas, por agora termina aqui a missão do «lobices» que se apresta a agradecer a vossa presença ao longo destes 8 anos e a dizer-vos bem haja por tudo o que ele significou para mim... um até breve... e o meu obrigado do fundo do coração..."

13/11/2011

Um fim anunciado

“… tudo nasce… tudo morre… eterno ciclo da vida do que quer que seja… até as estrelas morrem e dão lugar a super novas e talvez a novas galáxias… tudo parte dum princípio e tudo termina num fim… é assim a vida e tudo o mais que nos rodeia… acredito que o meu amor pelas palavras terminará apenas quando eu também terminar o meu percurso nesta vida… uma vida rica em tudo o que de mau vivi e em tudo o que de bom me foi proporcionado… levarei, um dia, um gosto amargo por findar mas levarei também um sorriso porque o meu caminho percorrido foi sempre o de amar… mas espero que esse momento natural para cada ser humano ainda venha longe e que a vida ainda me dê muita coisa para experimentar, vivenciar, saborear, e ficar a saber um pouco mais para além de tudo o que aprendi até aqui… um dia, a vida findará e levarei comigo tudo o que me deu sorriso e lágrima, tudo o que me deu prazer e dor… levarei certamente o Amor… mas não estou a falar de mim mas sim deste meu blogue… o Lobices nasceu, um dia, no Sapo, mais precisamente no dia 19 de Novembro de 2003... Tímido e titubeante lá foi crescendo e tomando forma… teve filhos e irmãos e manteve um rumo a que lhe dei o lema de que -Amar é o caminho - e assim ele foi vivendo… porém, depois de passar pelo Blogger e de ter atingido uma certa notoriedade, a verdade é que entendo, como seu criador e mentor, que o Lobices chegou ao fim do seu percurso como tal, como blogue… no próximo dia 19 de Novembro ele fará a bonita idade de 8 anos, oito anos de paixão pela palavra, pela imagem, por tudo o que me deu prazer em vos transmitir e principalmente por todo o amor que lhe dei e nele deixei… as palavras ficarão lá para todo o sempre e ele apenas morrerá fisicamente… a mente, essa, estará sempre viva… o Lobices sou eu e eu ainda não morri nem penso morrer… todavia, vou preparar a vereda para o seu fim… deixarei aqui, como sempre deixei, uma parte de mim… o livro que do blogue nasceu está vivo e guardado no meio de outros livros que o rodeiam… o Lobices cumpriu a sua missão… breve será fechado num adeus presente, nunca ausente, mas vivo e latente no meu coração… espero que ele, o Lobices, vos tenha feito alguma companhia enquanto aqui viveu… em breve vos dirá, Adeus!…”

06/11/2011

Perdurar

"... e o amor não se esgota nos momentos em que os amantes se encontram... o amor perdura para além deles, dos momentos e dos próprios amantes... o amor fica em cada um como uma marca no tempo que vai para lá do tempo em que foi... o amor vai com cada um e reaje ao menor sinal de memória... reactiva-se a si próprio quando já lá não está, naquele momento em que se ama... eleva-se para além da sua meta e tenta chegar ao momento seguinte, momento esse que não se sabe se vai existir mas que se deseja e do qual se sabe apenas que será um novo momento... o amor não se esgota no momento em que os corpos se esgotam e descansam... o amor vai além desse esvair porque se não for nunca será amor... o amor não se esgota no peito de cada um porque continua na memória de ambos... o amor é isso, é saber que não foi só e apenas aquele momento... o amor prolonga-se a si próprio para além de si mesmo e daqueles que o vivem... o amor está para lá do próprio amor..."

31/10/2011

Acenar

"... o tempo passa demasiadamente depressa... quando damos pelo facto, seja ele qual for, o tempo esvaiu-se e quase não o vimos passar... quando não o vemos passar porque ele foi usado em positiva vivência, é óptimo recordar esses momentos que não vimos passar porque o tempo estava a ser ganho por algo bom que recordaremos com prazer... porém o tempo voa e quando damos por ele, ele já passou e já são horas de dizer um novo adeus, um até breve, um até depois... fica o sabor de tudo o que se viveu... fica a saudade desses momentos... fica a ânsia de que eles voltem depressa mais uma vez... e quando o tempo de viver esses doces momentos acaba, fica em nós a presença do outro, o cheiro, o sabor, o tacto, o som e a imagem que fixamos com ternura para, no mínimo, a levarmos dentro de nós... até ao próximo encontro... no entretanto, fica o aceno, o olhar para trás, o dizer aquele adeus com a mão estendida e o rosto, apesar de tudo, sereno e com um sorriso nos lábios... o acenar até que a esquina surge e o passo continua calmo no percorrer daquela rua..."

28/10/2011

A trindade do amor

Distinguem-se 3 tipos de amor, susceptíveis de encaixarem uns nos outros:



1. EROS (erotismo). É o amor carnal, sexual. O desejo físico do outro exprime-se pela paixão amorosa, vivida, muitas vezes, na falta e no sofrimento.



2. PHILIA (amizade). O amor carnal evolui para o amor-ternura. Não é mais somente um instinto carnal, ou uma concupiscência. Ele dá-se. É alegre, expansivo. É o amor conjugal realizado e aquele que é dado aos seus filhos e reciprocamente. É também amizade. No entanto, permanece mais ou menos interessado.



3. AGAPE (caridade). É o amor dado sem procura de contrapartida. É o bem por excelência. Os crentes encontram a sua fonte em Deus, que é amor.



Há pois oposição entre o amor-EROS de concupiscência e de cobiça, e o amor-PHILIA, ou Agape, que são amores de benevolência e de amizade. Quer-se bem a alguém, em vez de o possuir. Os dois sentimentos, na maior parte das vezes, justapõem-se.



O amor-EROS não é uma virtude. «É uma questão de sentimento e não de vontade, diz Kant, e eu não posso amar porque eu o quero, menos ainda porque eu o devo; daí se conclui que um dever de amar é um contra-senso.»



Efectivamente, «o amor não se comanda porque é ele quem comanda, diz A. Comte-Sponville.»Mas à medida que se avança na sabedoria e na virtude, desligamo-nos dos desejos egoístas e elevamo-nos nos graus do amor.



Primeiro, só se ama a si mesmo, depois o outro e depois os outros.



Assim, «a benevolência nasce da concupiscência pois o amor nasce do desejo, do qual não é mais que a sublimação alegre e satisfeita. Este amor é uma virtude: querer o bem do outro é o próprio bem» (Ibidem, p. 349.)É o ideal. «O ideal da santidade», sublinha Kant. Ele guia-nos e ilumina-nos. É uma virtude pois é uma excelência.



E, milagre, «o amor que realiza a moral liberta-nos dela». «Ama e faz o que quiseres», dizia Santo Agostinho.O amor é pois, o começo de tudo.





(in Jean Guitton et Jean-Jacques Antier – Le Livre da la Sagesse et dês Vertus Retrouvées)

18/10/2011

Um fim anunciado

“… tudo nasce… tudo morre… eterno ciclo da vida do que quer que seja… até as estrelas morrem e dão lugar a super novas e talvez a novas galáxias… tudo parte dum princípio e tudo termina num fim… é assim a vida e tudo o mais que nos rodeia… acredito que o meu amor pelas palavras terminará apenas quando eu também terminar o meu percurso nesta vida… uma vida rica em tudo o que de mau vivi e em tudo o que de bom me foi proporcionado… levarei, um dia, um gosto amargo por findar mas levarei também um sorriso porque o meu caminho percorrido foi sempre o de amar… mas espero que esse momento natural para cada ser humano ainda venha longe e que a vida ainda me dê muita coisa para experimentar, vivenciar, saborear, e ficar a saber um pouco mais para além de tudo o que aprendi até aqui… um dia, a vida findará e levarei comigo tudo o que me deu sorriso e lágrima, tudo o que me deu prazer e dor… levarei certamente o Amor… mas não estou a falar de mim mas sim deste meu blogue… o Lobices nasceu, um dia, no Sapo, mais precisamente no dia 19 de Novembro de 2003... Tímido e titubeante lá foi crescendo e tomando forma… teve filhos e irmãos e manteve um rumo a que lhe dei o lema de que -Amar é o caminho - e assim ele foi vivendo… porém, depois de passar pelo Blogger e de ter atingido uma certa notoriedade, a verdade é que entendo, como seu criador e mentor, que o Lobices chegou ao fim do seu percurso como tal, como blogue… no próximo dia 19 de Novembro ele fará a bonita idade de 8 anos, oito anos de paixão pela palavra, pela imagem, por tudo o que me deu prazer em vos transmitir e principalmente por todo o amor que lhe dei e nele deixei… as palavras ficarão lá para todo o sempre e ele apenas morrerá fisicamente… a mente, essa, estará sempre viva… o Lobices sou eu e eu ainda não morri nem penso morrer… todavia, vou preparar a vereda para o seu fim… deixarei aqui, como sempre deixei, uma parte de mim… o livro que do blogue nasceu está vivo e guardado no meio de outros livros que o rodeiam… o Lobices cumpriu a sua missão… breve será fechado num adeus presente, nunca ausente, mas vivo e latente no meu coração… espero que ele, o Lobices, vos tenha feito alguma companhia enquanto aqui viveu… em breve vos dirá, Adeus!…”

13/10/2011

O uivo

...Levantou-se com um sobressalto, que a fez erguer a coluna num impulso sôfrego, um nó de desespero atado na garganta. Segurou-a com uma das mãos, como se contivesse a respiração ainda ofegante. A escuridão estava toda emersa numa tonalidade azul, criando uma atmosfera quase irreal no interior do quarto. Uma estranha luminosidade vinha do exterior, e penetrava no quarto pelo espaço entre as velhas cortinas desbotadas. Dirigiu-se à janela como se algo a chamasse. Espreitou por trás do veludo envelhecido do reposteiro e viu um vidro quebrado, estilhaçado no canto inferior esquerdo. Formava um desenho perfeito de uma teia. Tocou-lhe e automaticamente levou o dedo à boca, sugando o sangue do corte que acabara de sofrer. Soltou um breve gemido de dor, frustrado de fúria. Lá fora, a lua erguia-se gigantesca, majestosa, rodeada de uma aura azul intensa, que cobria todas as coisas de improváveis reflexos. Sentiu um incómodo arrepio, como uma fria corrente enferrujada a mover-se no interior da espinha. O espaço à sua volta, de súbito, ganhava novos contornos. Estremeceu perante um breve desacerto do mundo. Julgou ouvir ruídos, um estalar de madeira, ecos de passos atrás de si, o som das sombras a mover-se pelas paredes do quarto. Voltou-se e tremeu. Deu dois passos incertos, esquecida do próprio corpo. O chão estava alagado; os pés descalços enregelados. Ouvia uma torneira aberta, que pingava lentamente. O som adensava-se segundo a segundo, ecoava pela casa toda, cada vez mais próximo, cada vez mais grave, cada vez mais alto, com requintes de tortura. Segurou a cabeça entre as mãos, crispando os dedos entre os cabelos, tapando os ouvidos quase até ao limiar da dor. Enlouquecia. Abriu as portadas e saiu. Correu para a floresta que se estendia, negra e silenciosa, a sul da casa. Não se vestiu. A camisa branca de algodão finíssimo esvoaçava enquanto corria. Um som distante, longínquo, como um uivo, envolvia agora todo o espaço entre as árvores. Tudo à sua volta permanecia assombrosamente azul. Olhava para o céu e os seus olhos cintilavam, fazendo perguntas às estrelas ausentes. Correu a um ritmo alucinante, rasgando a noite escura com a sua deslumbrante figura pálida. Se pudéssemos congelar o momento, encontrar-se-ia a mais bela fotografia do mundo. Era atrás do lobo que corria. Um lobo que conhecia sem nunca ter visto, que a chamava sem nunca ter tocado um fio dos seus cabelos. Sonhara com ele durante seis noites seguidas, um segundo mais cada noite, até que o sonho a puxou para dentro e ela foi ao seu encontro. Correu atrás dele, movida pelo sonho, dominada pela loucura. Corria como se perseguisse a própria vida, e gritava. Gritava o nome do seu amor, como se lhe respondesse. Correu até ficar sem forças, lentamente vergou os joelhos e deixou-se cair no chão húmido. Tinha chovido nas horas anteriores, muito certamente. Cravou as mãos na terra até que esta lhe doesse, negra e perfumada, entre as unhas. Sentiu um frio muito fino percorrer-lhe a parte de trás do pescoço, desde a nuca, descendo até à cintura. Depois um calor imenso a escorrer-lhe pelos braços. Tinha o lobo junto do seu corpo, o seu olhar ferido de medo. Aproximou-se do seu rosto, conseguia sentir-lhe a respiração na face gelada. Mergulhou os dedos finos no pêlo em redor do pescoço, num gesto ambíguo. Como se segurasse, como se repudiasse. Sentia-o roubar-lhe o sopro de vida, ao mesmo tempo que a alimentava de uma inexcedível sensação de eternidade. A escuridão era tão intensa que a noite parecia estender-se sobre todas as coisas, sem limites, insondáveis as suas profundezas. Reinava uma calma inquietante. O seu coração pulsava acelerado dentro do peito, o olhar num fervilhar insustentável de paixão. Olhou à volta, demorando um segundo a reconhecer o espaço do quarto. Um segundo depois, o outro lado do pesadelo: Está um homem ao seu lado. Está frio. O branco dos lençóis tingido de vermelho. Do corpo imóvel e pálido escapa-se um fio rubro e espesso. O olhar preso no infinito. Um último gesto de angústia suspenso na mão. A boca entreaberta, fixo nos lábios um suspiro, com o nome do seu amor.

07/10/2011

Entrega

“... abre-me os teus olhos e deixa-me mergulhar no teu olhar... abre-me os teus braços e deixa-me enlaçar no calor de um abraço... abre-me os teus lábios e deixa-me sentir o mel do teu beijo... abre-me o teu corpo e deixa-me ser possuído pelo desejo... abre-me a tua alma e deixa-me penetrar o teu ser... sentir tudo o que sei teres para me dar... amor de tanto amar... abre-me os teus ouvidos e deixa-me sussurrar as meigas palavras que tanto gostas de ouvir... e pele com pele sabermos que somos e sentirmos o doce aroma do mar que nos embala no cheiro da maresia que de nós mesmos exala... olharmos o interior do sermos apenas um acto de amor... mergulhar na seiva que a pele produz no sabor pleno em que tudo se transforma em luz... e o sol nos sorri, numa conspiração mútua do que ele sabe sobre mim e sobre ti... e o calor que nos abrasa arrefece-o porque mais forte que ele... e o amor preenche o momento em que nada mais somos do que pétalas suaves vogando nos ares como as asas das aves... e o seu planar, em pleno voo, de tanto sentirmos, tu te me entregas e eu a ti me doo...”

01/10/2011

A nossa longa caminhada


“…há uma coisa que é necessário definir: todos nós, quando escrevemos (ou falamos), dizemos coisas reais e dizemos coisas irreais... fazemos um misto de retórica vã e não só… colocamos muito de nós e também muito daquilo que vai no nosso imaginário… não só falamos do que sabemos como também falamos do que não sabemos mas, principalmente, falamos com a Alma, com aquilo a que eu chamo de "desejo"… fala-se do que "desejaríamos" que assim fosse… quando não "foi assim" então fala-se do desejo de não ter sido como desejáramos que tivesse sido… somos todos duma ambiguidade angustiante (quer se queira admitir isto ou não)… mentimos a nós mesmos para nos desculparmos de tudo só que nos esquecemos que não somos culpados de nada… a ilusão não está em nós mas em tudo o que nos é dado como perceptível, ou seja, o que nos rodeia é que pode ser ilusão… nós não somos uma ilusão… a ilusão gira à nossa volta e tenta-nos de forma a que se perca a noção do que é a verdade e do que é a mentira… ficamos, então, apenas com o que temos… e o que é que temos?... a esperança de estarmos enganados ou de nos termos enganado e de que há ou vai haver solução… desesperadamente procuramos resolver esse problema… doutras vezes, desistimos e deixamos que tudo "morra" no limbo do esquecimento… no entanto, esse limbo é também ele mesmo uma ilusão pois o esquecimento não é viável… não podemos "cortar" ou "apagar" a memória… e esta é a que nos devora… engole-nos por vezes duma forma assustadora e noutras vezes duma forma mais suave mas não deixa nunca de nos engolir… somos como que absorvidos por esse buraco negro que é a lembrança… lembramos tudo, principalmente o bom porque subconscientemente escondemos num recanto da nossa memória tudo o que foi mau… até porque nunca tivemos a culpa do mal ou do mau acontecido… somos uns eternos inocentes… fazemos assim, ao longo da vida, exorcismos aos nossos demónios em vez de lançarmos louvores aos nossos anjos… passamos uma vida inteira a lamentar o inlamentável em vez de nos alegrarmos com tudo o que não deve ser esquecido… e tudo, tanto o bom como o mau, deve ser contabilizado na nossa passagem por esta dimensão do aqui e agora… e só há uma forma de se "conviver" nesse estádio de vida: é aceitar o que nos é dado viver… é aceitar o que nos é dado pois nada daquilo que "temos" é nosso… foi-nos concedido passar por isso, foi-nos concedido vivermos nisso, foi-nos concedido vivenciar determinados factos, factos estes que serão única e exclusivamente nossos e de mais ninguém… mais ninguém no universo sente o que eu sinto, mais ninguém no universo sente o que tu sentes… somos seres únicos, individuais e totalmente imperfeitos… vamos a caminho da perfeição mas que tarda em chegar… vamos ter muito que caminhar ainda até conseguirmos a espiritualidade do ser… porém e como ainda somos imperfeitos é-nos "concedida" a capacidade de "chorar"… é por isso que nada nos satisfaz… é por isso que buscamos a felicidade (quando ela está aqui, dentro de nós)… é por isso que sofremos… é por sermos ainda imperfeitos que não sabemos (ainda não aprendemos) aceitar… no que me diz respeito, tento duma forma lenta mas sistemática, tentar aceitar mas, na verdade vos digo, que não é fácil e, por vezes pois, preciso de "gritar" e de usar a tal forma de equilíbrio que me permita lentamente sentir o caminho que piso numa caminhada que sei tenho de fazer, sem olhar para o caminho mas apenas com a vontade enorme e grandiosa de caminhar… caminhemos, pois, de mãos dadas com o Amor, o único que nos fará sorrir e ter mais forças para percorrermos esse caminho, o caminho da Sabedoria, da Luz, da Paz e da Harmonia…”

28/09/2011

19/09/2011

Férias


...A MINHA FILHA QUERIDA VEIO BUSCAR A MINHA MÃE PARA EU DURANTE UNS DIAS PODER DESCANSAR E ALIVIAR O STRESS DESTA MINHA PRISÃO... POR ISSO, E A PARTIR DESTE MOMENTO, ESTOU DE FÉRIAS... GRATO, FILHA...

12/09/2011

Toque

"... deito a cabeça no teu regaço... olho-te a face serena... e teus lábios sorriem... tuas mãos se envolvem nos meus cabelos e a massagem leva-me ao sonho... fecho os olhos e deixo-me vogar no teu corpo... dentro de ti... à tua volta... mesmo sem te tocar te sinto... tuas mãos tocam o meu ser como se nos meus lábios estivesse todo eu, como se a minha boca fosse todo o meu corpo... teus dedos leves e suaves me transportam, nesse toque, para lá de mim mesmo e me deixo ficar por momentos apenas nesse espaço, nesse limbo, nesse suave sentir de seda e com sede de um beijo... é esse beijo que acontece a seguir... é esse toque que me faz emergir de mim para imergir-me em ti... apenas um leve sabor a pétala duma qualquer flor... apenas um leve sabor e tudo o que nos rodeia a seguir é tão somente o amor..."

27/08/2011

Amar como o vento

"...Em cada relação que começa, a vida e o amor renascem. A paixão coloca cada pessoa num ponto alto e excepcional, inevitável e imperdível. Gostosamente. Mas as pessoas no seu melhor vêm depois, às vezes muito depois, quando se chora e luta, quando se aceita e se resiste, quando se constrói e quando se acredita. As verdadeiras relações, os grandes amores são sempre virtuais. Não por serem irreais, antes por serem imateriais, apesar de nos darem a ilusão de um corpo, de um suporte material que tocamos e possuímos, que acreditamos nosso, real, físico, material. Sentimos amor, quase conseguimos tocar, agarrar essa sensação. Dizemos convictos que é real. Olhamos o outro nos olhos e parece real, parece que o outro ali está e nos ama mais que nós... Mas ver, sentir, tocar, são formas de aceder ao amor, ascensores, facilitadores. Difícil mesmo é planar. As relações são feitas de ar, planar. É no vento que se ama. Talvez ser o próprio vento, e não a folha. Vê-se melhor o que é amar quando é difícil amar, aceitar que é sempre mais do que improvavelmente, um esforço, um desejo, um empenho pessoal em algo que materialmente não existe, não é palpável nem mesmo se sente. Nunca se ama realmente, a realidade do amor é nunca ser real. Virtual. No dia a dia, corpo a corpo, sonha-se o amor, sonha-se um amor virtual, que se não for virtual não é amor. Virtual porque não depende da presença do outro, da aparência do outro, do comportamento do outro. Um amar que perdura e se sustenta (Vento) mesmo quando não vemos o outro. Amar é memória, antecipação e crença profunda em memórias que hão-de vir. Virar a cara a quem nos vira a cara, sabemos todos que é real, bem concrecto, mas não é amar. Ama-se mesmo quem não nos ama e nos quer deixar. É na paciência, na persistência que se mede o amor. Amar é escolher amar. Depende de quem ama e não de quem é amado. Depende do esforço e disponibilidade de quem ama. Ninguém merece ser amado, porque ninguém pode deixar de merecer ser amado. Não depende do mérito, não depende do comportamento, não se vê nem se comprova. Posso ter que silenciar, posso ter de partir... vai comigo o amor..."

25/08/2011

Ondas

...queria tanto ser o mar... Para te sentir dentro de mim a nadar, esbracejando vigorosa e forte em longas braçadas de vida e respiração molhada... Para te sentir a pele gotejada da minha maresia em total contorno da tua existência e contínua persistência... Para teus lábios beijar com o sal ardente deste meu ser em contínuo movimento que de doirado e sedento se move para dentro... Para teu corpo desejar e em ondas te tornar e à minha volta te jorrar quando na cálida areia me espraiar... Para sentir o calor intenso do sol me banhar, aquecendo-me para que teu corpo não tremesse de frio ao em mim penetrar... Para teus seios ondular na massa informe do meu ser que de moldável e suave permite a ternura em mim nascer... Para sentir tuas fortes pernas afastar-me e em desenhos lindos e simétricos vencer a maleabilidade do meu ventre, para sempre... Para em gotículas me espalhar na tua vida em crescendo quando nua na praia secas teu corpo ao vento num lânguido movimento... Para te chamar e te ver correr para mim, a saltar, como gazela fugindo num monte de alguém que a quer caçar... Para te chamar e te sentir mergulhar de braços estendidos e de cabeça defendida, numa entrada sulcando meus sentidos... Para te aconchegar dentro de mim e com ternura te abraçar num longo e eterno movimento de loucura... Para viver o instante do meu único momento insano na procura do ser que me fizesse ver que mais não sou que o desejo de te ter...



...e retomado do fim de tanto prazer, depositar-te na areia doce e quedar-me duma vez por todas, ali, parado, para te ver!...



...Como eu queria ser o mar...

23/08/2011

Noturno

...Em frente ao espelho da cómoda do teu quarto, sentada num banquinho forrado a tecido de cortinado vermelho, penteavas os teus cabelos, num ritual que funciona mesmo sem dares por isso... a escova passava ora uma, ora duas vezes, de cima para baixo e alisava os teus cabelos sedosos, cor de mel e de marfim... brilhavam no espelho e te revias momento a momento numa expectativa de mudança, o que não acontecia pois não podias ficar mais bela do que aquilo que já eras... a beleza em ti não residia nem morava ... era!... A tua camisa de noite, acetinada bege, de rendas sobre o peito alvo de seios firmes e redondos, deixava transparecer a cor da tua pele suave e doce ao olhar sem ser preciso tocar... a tua cama de lençóis de prata, aguardava o teu corpo numa ânsia lasciva de quem à noite, só, te espera num desespero de intocabilidade... e tu, demoravas... da cómoda tiraste um frasquinho de perfuma e te ungiste com ele o que provocou um agradável respirar a todos os móveis que te rodeavam... e a tua cama, ansiava pela tua presença... e o teu corpo demorava a conceder-lhe esse desejo... levantaste-te de frente do espelho e te miraste novamente de corpo inteiro e gostaste da tua imagem alva e bela naquele quarto iluminado pela tua presença... olhaste de soslaio e sorriste... sentaste-te na beira da cama e esta suspirou docemente perante a antevisão de que breve te possuiria.

Tiraste os teus pézinhos leves de dentro dos chinelos de cetim vermelho, levantaste um pouco o lençol e te entregaste total e lentamente ao prazer de estender do teu corpo e da entrega final ao teu leito... a tua cama nem sequer se moveu... aquietou-se para não te perturbar, para que não te arrependesses daquilo que acabaras de fazer, com medo que te levantasses e ela te voltasse a perder... a tua cama inspirou baixinho a fragrância do cheiro da tua pele e deixou-se ficar aguardando o teu próximo movimento... deitada de bruços te deixaste finalmente ficar e tua cabeça leve pousada de mansinho na almofada, arfava lentamente o teu respirar de prazer por mais uma noite de descanso e de sonhos...

Teus olhos semicerrados viram a lâmpada acesa e teu braço se estendeu ao interruptor da mesinha de cabeceira para a desligar; os teus movimentos eram propositadamente lentos para que o tempo demorasse ainda mais do que aquele que já existia... e a tua cama sentia... na obscuridade do teu quarto, teus olhos semicerrados olharam o tecto e se fixaram na sua alva cor que permitia uma réstia de luz no meio da escuridão... olhaste a janela e pelas frinchas da persiana, divisaste a luz cinzenta duma lua crescente... avizinhava-se uma noite de lua cheia e teu corpo descansou por um momento... a tua cama então suspirou e te abraçou fortemente... em suas mãos te acabavas de entregar... e o sono chegou.... adormeceste... não sei mais o que se passou... a noite decorreu, teu corpo diversas vezes se moveu... a tua cama não se movia, com receio de te acordar; abraçava-te sempre para não te deixar fugir... sentia-te sua e possuía-te num sonho imenso de impossibilidade, de impotência, de raiva, por não te conseguir ter tendo-te ali... tua mente adormecida, movia-se e sabia-se que sonhavas... a tua cama te tinha ali, indefesa, sozinha... sonhavas e eu aqui, nada mais te pedia... nada mais desejava...

Queria apenas ser o teu sonho...

18/08/2011

Escolha

"...o que nos muda, o que nos faz mudar, crendo na mudança do querer mudar, é a vontade de ser feliz, a decisão de ser feliz, a decisão de amar, descobrindo que não temos o direito de nos perder e que temos sempre o direito e a capacidade de escolher..."

16/08/2011

Certeza

"...tivesse eu a certeza de tudo e não estaria aqui; tivesse eu essa certeza que a incerteza não nos permite possuir e eu não estaria aqui... possuiria o dom da sabedoria do quando, do como, do onde e também do porquê e ainda do para quê... tivesse eu essa certeza que a incerteza não nos permite obter e eu estaria em ti e não em mim... possuiria o dom do ser e do estar onde me fosse dado querer e estaria no teu olhar; perder-me-ia no teu corpo e deixaria de me querer voltar a encontrar... labirinto fosses e eu palmilharia a eternidade sem me preocupar com a saída; fosse eu apenas uma centelha da tua respiração e tudo no mundo caberia na minha mão; fosse eu apenas o pulsar do teu pensamento e voltaria a ser apenas o vento... o vento sem lamento, o vento que me traria o sabor do aroma do teu corpo a ondular em mim, mesmo que fosse como um tormento, um doce tormento... tivesse eu a certeza de tudo e não estaria aqui... seria como a luz que como a uma borboleta tanto seduz... seria o tudo e o nada na totalidade absoluta do ser, seria isso tudo mesmo que não te pudesse ter..."

13/08/2011

Poetas

"...quis ser um poeta que tivesse asas... e poesia em cada voo... quis ser um poeta cujas palavras vos enchesse a casa... e que vos reencontrasse em cada dor... quis ser um poeta que fosse fogo e água e sol e terra... e que com todos esses elementos criasse um novo ser... mas há poetas que são simplesmente poetas... há poetas que ainda nem sabem que o são... há poetas... imensos... tentei um dia ser um desses poetas... e sei hoje que um poeta nunca morre... faz-se em vida mesmo na morte, soltam as asas e levam-vos o vento... protegem-vos e fazem-se ao caminho convosco... peregrinam em vós... que com ele caminhais... bebeis o sorriso dos poetas... vedes pelos seus olhos, e por detrás desses olhos, uma alma que brilha e ilumina cada recanto escuro da vossa própria alma... e é em dias de negro e frio que mais precisais dos poetas... porque eles são fonte, força e semente... um poeta nunca mente... ele, o poeta, é a vossa armadura, a vossa madrugada e o fim de tarde... a vossa lua nova ou lua cheia... são perenes todos os poetas... nascem e renascem... mesmo sem nunca morrerem... nada destrói um poeta, nem a voz nem o sentir... quis ser um desses poetas que tivesse asas e poesia em cada voo... podemos ser usados, abusados, até como lixo abandonados, enegrecidos e deturpados... simplesmente somos quem somos ... podemos ser retalhados, citados e aviltados... podemos ser usados como arma de arremesso... podemos ser teorizados e complicados... podemos ser mistificados e cristalizados... podemos até servir de pasto em chamas inquisitoriais... não somos orações, nem homilias nem credos... e não nos deixamos cair... não somos ameaça do fim do mundo... não somos propriedade de ninguém... não somos espada nem guilhotina... não cabemos na pena nem no ódio de quem de nós se apropria... somos apenas poetas... somos simplesmente imensos... não cabemos em nenhuma semana nem em qualquer dia... somos de todos os tempos... não nos deixamos aprisionar por nenhuma alma negra... somos apenas asas... não somos anjos... somos apenas amor e amamos... e se agora sei, como tão bem sei, que as palavras vos podem fazem voar, que às vezes vos levam para lá do mar, em asas de vento, de dor e de amor... sei também, como sabem todos, que não há palavras nem versos, nem poesias que cheguem para transformar um poeta num anjo..."