18/12/2012

TRAZIAS

“...trazias o perfume de uma flor e o sabor de uma iguaria... trazias tudo o que eu desejava, o que eu queria... trazias contigo a doçura do teu olhar e a leveza do teu toque para o meu corpo amaciar... trazias o sol e o brilho das estre las... trazias o sorriso estampado na pele e o cheiro da maresia quando se espalha na areia... trazias tudo o que um homem anseia... trazias o amor dentro de ti, o amor que se dá e não se regateia, o amor que sempre perdura mesmo quando partes... trazias a esperança no rosto e os lábios entreabertos prontos para o beijo, para o doce toque em que todos os sabores se transformam em mel... de braços abertos meu ser te aguardava, ansioso... certo da tua vinda, da tua chegada... e o abraço se deu num enlaçar de paz e de ternura... e todo o ser se deu e se recebeu e as mãos se entrelaçaram... e num serpentear de passos arrastados porque leves, os caminhos nos levaram... e o sabor a tudo num leito se aconchegou... e o amor que veio e o amor que esperou, por ali, naqueles instantes infinitos, se quedou e a si mesmos se entregaram na paz que só os que amam sabem sentir...” (photo from tudosobresonhos.blogspot.com)

06/12/2012

A caixinha de marfim

“…eram extremamente apelativos… estavam ali à minha disposição… em cima da mesinha de cabeceira… era uma caixinha escura que ela usava para ter à mão os comprimidos que a faziam dormir… nunca liguei qualquer importância ao valor daquela caixinha e, no entanto, ela continha o passaporte para uma viagem, uma sem retorno… nunca houvera pensado nisso, exceto naquela noite… uma noite em que ela não estava ali deitada comigo (nunca mais estaria)… uma noite em que acabara de chegar de mais um bar e depois de ter ingerido um bom pedaço de álcool para me aquecer a alma tão fria e tão dormente que já nem a sentia… também, para que queria eu uma alma?… que é que ela me dá ou me faz?… a caixinha preta continuava ali… quantos comprimidos teria ela deixado desde a última vez que a encheu depois de os tirar da embalagem de marca do medicamento?… a minha mão direita estendeu-se para aquela caixinha preta tão apelativa como tão consoladora pelo imaginário que já me estava a provocar… não custaria nada e dormiria para sempre… tão bom… era disso que eu estava a precisar ou seria de mais um pouco de gin?… mas para tomar os comprimidos eu precisava de beber alguma coisa e essa coisa estava também ali à mão… debaixo da cama, talvez também deitada no chão por cima do tapete… teria ainda algum líquido?… o suficiente para engolir os comprimidos?… já não tinha forças para me levantar e ir buscar outra garrafa… a caixinha preta continuava ali e a minha mão já estava em cima dela… senti aquela textura (penso que era marfim) sob os meus trémulos dedos mas senti-a fria e um arrepio percorreu-me a coluna… ou teria sido outro tipo de arrepio?… não sei quanto tempo estive com aquela caixinha na mão… não sei quanto tempo demorei a tomar uma decisão… não sei quanto tempo a olhei com um turvo olhar… não sei porque razão não a segurei… dei por mim a olhar para ela sem saber para que é que ela servia e naquele momento apenas me apeteceu dormir… tão perto do derradeiro sono… tão desejado… ali tão à mão… reparei então que estava deitado sobre o lugar dela com o braço direito estendido para a mesinha de cabeceira segurando a caixinha preta que continha o passaporte para a derradeira viagem… tantas vezes assim estivemos… tantas vezes senti o seu calor, o seu respirar, o seu arfar… tantas vezes assim ficamos depois de fazermos amor… e, neste estúpido momento, repetia aquela posição estendendo a minha mão para uma viagem… não consegui conter o choro… não consegui aguentar as lágrimas… não consegui segurar a caixinha preta… não consegui partir… restou-me a certeza que no dia seguinte teria mais uma noite de frio…” (photo from experienciasdeumvagamundo.blogspot.com)

29/11/2012

A tua chegada

… chegas pela manhã … logo a seguir ao último luar … e trazes margaridas no teu sorriso … vens com os olhos brilhando pétalas … e as mãos erguidas em ovação … trazes a paz no teu andar … no compasso terno do teu coração … chegas pela manhã … logo a seguir ao teu último sonho … resplandecente de ondas do mar … trazes o sorrir de um beija-flor … trazes alegria, trazes amor … vens com os lábios abertos ao mel … e os braços abertos ao abraço … cantas, deliras de espanto … e esqueces o teu cansaço … és serenidade doce do meu encanto … és luxúria do meu segredo … és encanto que me tira o medo … és flor que me cobre como um manto … chegas pela manhã … logo a seguir ao último luar … chegas pela manhã … sem lágrimas, sem pranto … chegas pela manhã … num gesto doce … do teu terno e suave amar... (photo from herminia.bloguepessoal.com)

19/11/2012

ANIVERSÁRIO

... este blogue nasceu a 19 de Novembro de 2003 ... faz hoje 9 anos de idade... muita coisa aconteceu ao longo destes anos todos à vida do seu mentor... a quase totalidade desses eventos "narram-se" nos textos que compõem o "Lobices" e nas fotografias que o ilustram... retalhos da vida de uma pessoa... somente... nada mais... pequenos nadas e talvez o tudo... não quis deixar passar a efeméride... parabéns ao Lobices...

12/11/2012

Estrelas

“… e as estrelas chegaram e trouxeram-me o suave sorriso dos teus lábios... e vinha com a claridade prateada da lua que se escondia da tua beleza... e as estrelas me trouxeram a doçura do teu olhar em arcos de luz, essa claridade da tua alma que tanto me seduz... e vinha com o brilho da tua pele macia como a seda que qualquer bicho-da-seda teceria... e as estrelas chegaram e me presentearam com o calor doce do teu toque... sentir-te é uma benção que traz a paz ao deitar meu enlevo no teu regaço e, sem espaço, vinha o luar espreitar... sorria ele ao ver-te chegar e sabia ele da minha alegria em te receber, plena de luz e de amor que qualquer deus sabia antever... abristes os braços e te deste em sintonia com a veste que não trazias... não precisavas pois tu mesma eras todos os véus que cobrem as estrelas de todos os céus... sorrias nessa entrega plena de dádiva que eu tanto queria... estavas ali, cheia de ti, pronta para mim... porque as estrelas te trouxeram num mar de pétalas de uma doce rosa em qualquer jardim... o meu...” (photo from lobices-photobucket)

31/10/2012

Queria ser o teu sonho

“…Em frente ao espelho da cómoda do teu quarto, sentada num banquinho forrado a tecido de cortinado vermelho, penteavas os teus cabelos, num ritual que funciona mesmo sem dares por isso… a escova passava ora uma, ora duas vezes, de cima par a baixo e alisava os teus cabelos sedosos, cor de mel e de marfim… brilhavam no espelho e te revias momento a momento numa expectativa de mudança, o que não acontecia pois não podias ficar mais bela do que aquilo que já eras… a beleza em ti não residia nem morava … era!… A tua camisa de noite, acetinada bege, de rendas sobre o peito alvo de seios firmes e redondos, deixava transparecer a cor da tua pele suave e doce ao olhar sem ser preciso tocar… a tua cama de lençóis de prata, aguardava o teu corpo numa ânsia lasciva de quem à noite, só, te espera num desespero de intocabilidade… e tu, demoravas… da cómoda tiraste um frasquinho de perfume e te ungiste com ele o que provocou um agradável respirar a todos os móveis que te rodeavam… e a tua cama, ansiava pela tua presença… e o teu corpo demorava a conceder-lhe esse desejo… levantaste-te de frente do espelho e te miraste novamente de corpo inteiro e gostaste da tua imagem alva e bela naquele quarto iluminado pela tua presença… olhaste de soslaio e sorriste… sentaste-te na beira da cama e esta suspirou docemente perante a antevisão de que breve te possuiria… Tiraste os teus pézinhos leves de dentro dos chinelos de cetim vermelho, levantaste um pouco o lençol e te entregaste total e lentamente ao prazer de estender do teu corpo e da entrega final ao teu leito… a tua cama nem sequer se moveu… aquietou-se para não te perturbar, para que não te arrependesses daquilo que acabaras de fazer, com medo que te levantasses e ela te voltasse a perder… a tua cama inspirou baixinho a fragrância do cheiro da tua pele e deixou-se ficar aguardando o teu próximo movimento… deitada de bruços te deixaste finalmente ficar e tua cabeça leve pousada de mansinho na almofada, arfava lentamente o teu respirar de prazer por mais uma noite de descanso e de sonhos… Teus olhos semicerrados viram a lâmpada acesa e teu braço se estendeu ao interruptor da mesinha de cabeceira para a desligares... os teus movimentos eram propositadamente lentos para que o tempo demorasse ainda mais do que aquele que já existia… e a tua cama sentia… na obscuridade do teu quarto, teus olhos semicerrados olharam o tecto e se fixaram na sua alva cor que permitia uma réstia de luz no meio da escuridão… olhaste a janela e pelas frinchas da persiana, divisaste a luz cinzenta duma lua crescente… avizinhava-se uma noite de lua cheia e teu corpo descansou por um momento… a tua cama então suspirou e te abraçou fortemente… em suas mãos te acabavas de entregar… e o sono chegou…. adormeceste… não sei mais o que se passou… a noite decorreu, teu corpo diversas vezes se moveu… a tua cama não se movia, com receio de te acordar... abraçava-te sempre para não te deixar fugir… sentia-te sua e possuía-te num sonho imenso de impossibilidade, de impotência, de raiva, por não te conseguir ter tendo-te ali… tua mente adormecida, movia-se e sabia-se que sonhavas… a tua cama te tinha ali, indefesa, sozinha… sonhavas e eu aqui, nada mais te pedia… nada mais desejava… queria apenas ser o teu sonho…” (Photo from dandaramachado.wordpress.com.in.google)

20/09/2012

Par

"...Não há perto nem longe, nem local nem ausência, nem lágrima nem sorriso, nem fuga nem prisão... Para amar basta querer ser e estar... numa entrega total... Não ser apenas um corpo com outro corpo mas ser muito mais do que isso: ser o par!... Ser o desejo de ser... ser o desejo de estar ali em corpo e alma numa fusão única, num momento só..."

02/09/2012

Tela

“…gosto de desenhar no meu corpo a pura entrega de quem ama… gosto de desenhar na minha alma a luz dessa verdade… escrever com os meus olhos a leitura da saudade… garatujar nos sons as palavras sussurradas… saborear na boca, nos lábios a doçura do mel do teu beijo desenhado desejo de quem procura o abraço esperado… gosto de desenhar nos teus ouvidos as letras que formam os sentidos… desenhar, por fim, já por sobre o esboço da obra final de quem no auge do encontro sente-se sonho sabendo ser real… pairar na tela do teu corpo e desenhar as cores do amor que num todo se move completo no ser que temos por modelo… e sendo-o, tê-lo, possuí-lo e transformar a obra num plano final que dá ao desenho o toque especial como que uma assinatura sobre a obra acabada… depois, ficar a mirar tudo o que havia sido feito para ter ali, na minha frente, a concretização do sonho e saber que todas as palavras ditas ou as desenhadas ou as escritas houveram sido assimiladas, saboreadas e entendidas como brotadas de dentro do meu ser… gosto de desenhar sim, no teu corpo, o meu eu e no fim ao olhar a tela preenchida em ti soubesse ali ter tudo o que havias querido da presença do meu amor…”

27/08/2012

O que tu és

“... és sinónimo de paz, na palavra que me dás... és sinónimo de beleza nesse olhar profundo sem mácula de tristeza... és sinónimo de alegria no toque suave que em mim um teu sorriso cria... és sinónimo de paixão quando disfruto o bater mais forte do meu coração... és sinónimo de harmonia quando me beijas enlaçados em sintonia... és sinónimo de luz quando no escuro da noite teu amor me seduz... és sinónimo de serenidade quando no abraço matamos a saudade... és sinónimo de ternura quando na partida o teu olhar em meus olhos perdura... és sinónimo de puro amor quando nos afagamos com a alma e os corpos sem pudor... és saudável loucura quando sinto a nossa mútua procura e nos afogamos no delirar de um sentir que tudo é tão simples quando sabemos porque é que nos estamos a amar... és tudo o que um simples mortal busca na imortalidade que a qualquer um ofusca no silêncio do grito que amaina a febre do ruído que quebra tudo mesmo que fosse granito... és tudo o que o amor busca no olhar, no toque, no beijo que de momento em momento se reduz ao desejo, trazendo como prenda, tecido em flocos de doce renda, o caminho percorrido como sempre desejado, obtido e que a luz em nossos corações se acenda para num florir matinal ou num anoitecer normal, o doce sabor nos acorde ou nos adormeça em profunda certeza que o dia seguinte mais não será do que um novo fruir do amor que nos envolve e a cada momento nos devolve na mais plena pureza do aceno tão natural como há pouco sobre nós desceu... porque se te sinto minha, sei que me sentes teu...”

Por amor

«...Um até já, meu amor, que por amor se corre e por amor se não percorre... um até já, meu amor, pelas correrias que correste e pelas paragens à minha espera... um até já, meu amor, pelo amor caminhado, pelo amor parado como os dias que correm á nossa frente e nos arrastam irremediavelmente para essa morte... a morte do amor que de amor morreu no dia em que em vez de um até já, me disseste adeus...»

22/08/2012

09/08/2012

Basta

"...eu tinha qualquer coisa para te dizer, algo que já anda dentro de mim há milhares de anos e nunca tive essa oportunidade... ...há dias, quando surgiste na minha vida, um pouco alheada do próprio mundo, quando ali surgiste espelhada na minha alma, eu estive quase quase para te dizer... ...penso que me faltou a coragem e a voz se me embargou; calei dentro de mim o que deveria ter gritado... talvez tenha esquecido a forma de gritar, talvez só saiba calar... não sei... já não sei... ...mas eu tinha qualquer coisa para te dizer, algo que me possui e me rasga a mente, num acto demente do meu próprio ser de aqui estar sem saber falar, sem saber o que te dizer, sem saber gritar o que tanto tenho calado... milhares de anos de silêncio dentro de mim... ...milhares de anos de solidão da minha própria voz... milhares de anos de espera que surjas ali à esquina, em qualquer lugar, e num momento de paz eu te possa gritar todo o meu amor... ...áhh dor que dói e me corrói a alma de tanto calar esta tão louca forma de te amar... dor de aqui estar e não saber o que te dizer, de não saber traduzir esta minha forma de tão somente te sorrir... ...e sorrio-te a todo o instante, aqui, ali, em qualquer lugar ainda que distante... não me preocupa se me ouves, se escondes as palavras que tão docemente me são devolvidas porque não enviadas... doces palavras de paz, ternura, carinho, amor... em doses de candura mas eivadas de toda a minha dor... ...estão aqui mas sei que tinha qualquer coisa para te dizer... como posso gritar se a voz se me tolda em silêncios ocos e sem eco ou se com eco ecoam apenas dentro do meu vazio, um vazio que não preencho ou se preencho apenas o preencho com a minha própria alma já de si tão gasta por durante todos estes milhares anos não me teres dito: Basta!..."

10/06/2012

Encontro

“...trazias o perfume de uma flor e o sabor de uma iguaria... trazias tudo o que eu desejava, o que eu queria... trazias contigo a doçura do teu olhar e a leveza do teu toque para o meu corpo amaciar... trazias o sol e o brilho das estrelas... trazias o sorriso estampado na pele e o cheiro da maresia quando se espalha na areia... trazias tudo o que um homem anseia... trazias o amor dentro de ti, o amor que se dá e não se regateia, o amor que sempre perdura mesmo quando partes... trazias a esperança no rosto e os lábios entreabertos prontos para o beijo, para o doce toque em que todos os sabores se transformam em mel... de braços abertos meu ser te aguardava, ansioso... certo da tua vinda, da tua chegada... e o abraço se deu num enlaçar de paz e de ternura... e todo o ser se deu e se recebeu e as mãos se entrelaçaram... e num serpentear de passos arrastados porque leves, os caminhos nos levaram... e o sabor a tudo num leito se aconchegou... e o amor que veio e o amor que esperou, por ali, naqueles instantes infinitos, se quedou e a si mesmos se entregaram na paz que só os que amam sabem sentir...”

08/06/2012

Amantes

"... e o amor não se esgota nos momentos em que os amantes se encontram... o amor perdura para além deles, dos momentos e dos próprios amantes... o amor fica em cada um como uma marca no tempo que vai para lá do tempo em que foi... o amor vai com cada um e reaje ao menor sinal de memória... reactiva-se a si próprio quando já lá não está, naquele momento em que se ama... eleva-se para além da sua meta e tenta chegar ao momento seguinte, momento esse que não se sabe se vai existir mas que se deseja e do qual se sabe apenas que será um novo momento... o amor não se esgota no momento em que os corpos se esgotam e descansam... o amor vai além desse esvair porque se não for nunca será amor... o amor não se esgota no peito de cada um porque continua na memória de ambos... o amor é isso, é saber que não foi só e apenas aquele momento... o amor prolonga-se a si próprio para além de si mesmo e daqueles que o vivem... o amor está para lá do próprio amor..."

04/06/2012

Adormecendo

“… deixa enroscar-me nos teus braços… coloca tua mão na minha cabeça e enrola os teus dedos nos meus raros cabelos… baixa um pouco a tua fronte e beija a minha boca… deixa enroscar-me no teu colo… sentir a tua maciez e ver de baixo para cima o teu sorriso… ver-te junto a mim e saber-te ali comigo… de tal forma que quando olhas eu sou o teu olhar… de tal forma que quando sorris eu sou os teus lábios… de tal forma que quando me afagas eu sou a tua mão… de tal forma que quando me tocas eu sou o teu corpo… de tal forma que quando me olhas eu sou o teu olhar… deixa pousar o meu cansaço na tua serenidade e sentir a tua paz na minha guerra… baixar as armas e sentir a trégua na tenda que se ergue no deserto da batalha… humedecer as mãos na brisa da água que corre no ribeiro que nos circunda… lavar a cara na frescura do vento que nos embala… sentir que nem tudo é real mas que o sonho nos preenche… sentir que, por vezes, só o desejo chega, só o querer basta, só o pensar nos satisfaz… deixa-me ser não só a realidade mas também o que não somos… deixa-me olhar para dentro de ti e ver-me inteiro… deixa-me tocar-te com o sonho e saber-me parte dele como sei que ele é uma parte do meu eu verdadeiro…”

01/06/2012

E em ti Mulher, eu me eternizo

"...Os meus olhos pousam em ti e todos os meus sentidos te olham num delirar mútuo de atenção... Vejo o teu corpo e deleito-me na tua alvura... Cheiro o teu cheiro e aspiro a tranquilidade da tua paz... Ouço o teu respirar lento, como um lamento que não lamento... As minhas mãos tocam os teus cabelos e envolvem-se neles... Acerco-me de ti e te toco... Te sinto global e ali inteira frente a mim... Beijo a tua boca e tudo se torna como num festim de doces carícias e sabor a sal... Estou inteiro no teu corpo inteiro e me sinto nele como sinto o teu corpo em mim... É apenas um abraço, um enlace de braços que apertam sem apertar, sentindo apenas o teu respirar... Minhas mãos percorrem a tua pele acetinada linda... Fecho os olhos procurando apenas sentir... E sinto o desejo crescer em mim e o teu arfar sobe de tom... Como é bom... A minha boca se cola na tua boca e a minha língua se funde dentro dela como se da tua se tratasse... É apenas mais um enlace... Sinto o teu peito quente junto ao meu e beijo teus mamilos num acto de procura da loucura... Loucura que me invade lentamente, premente ali presente ou então como se tudo mais estivesse ausente... Meus braços te envolvem e se descobrem momento a momento como se fosse a primeira vez que no teu corpo se movem... Sinto o cálido odor do teu corpo quente de amor, oferecendo-se como numa espécie de orgia sem pudor... Minhas mãos tacteiam centímetro a centímetro toda a tua pele, todos os recantos de teus encantos e se encontram, de repente, sobre o teu ventre quente, dolente... Afago tuas coxas e as tuas ancas e as aperto contra mim... Procuro o teu sexo e o acaricio... Beijo-te completamente num único beijo e me torno desejo do teu próprio desejo... Te envolvo num abraço mais e te penetro... És tu que me possuis... Não te tenho, és tu que me tens... Movimentos se entrelaçam como se não fossemos dois mas um só... Os nossos corpos se fundem num arfar profundo de loucura... Já não sei o que sou, apenas em ti estou... Eu sou tu e tu és eu numa fusão de ser e estar... Na verdade és tu que me possuis, eu não te tenho, és tu que me tens, em ti eu me dou...E em ti me eternizo..."

28/05/2012

Porque te amo ?

“…amo-te porque te amo… porque me sinto bem quanto te olho… quanto te toco… quando te beijo… quando sinto a tua pele perfumada junto da minha… quando te vejo sorrir para mim… quando ouço a tua voz… quando te ris… quando me tocas, me acaricias e me fazes sentir homem… amo-te quando me dizes que também me amas, quando me dizes gostar de mim, quando me olhas e vejo no teu olhar a tua alma e o reflexo da minha… quando sabemos que nada mais no mundo nos importa… quando sentimos que tudo o que gira à nossa volta está parado e somos o centro de tudo… amo-te quando te digo que te amo, quando te sussurro palavras ternas, quando ouço as que me dizes… amo-te quando me dás um mimo, um sabor, o roçar ao de leve ou mesmo forte… amo-te porque te amo… porque te sinto bem quando me olhas… quando me tocas… quando me beijas… quando sinto que sentes a minha pele… quando te sorrio… quando ouves a minha voz… quando me rio… quando te toco, quando te acaricio e te faço sentir voar… amo-te quando estou aqui ou aí… amo-te mesmo quando não estamos ou não somos… amo-te porque sei que te amo, porque sinto que te amo, porque vivo esse amor duma forma terna, doce, suave e pura mesmo quando os corpos se entrelaçam e vibram em loucura… amo-te assim, tão simples…tão tudo em ti e em mim…”

24/05/2012

Encontro

“...trazias o perfume de uma flor e o sabor de uma iguaria... trazias tudo o que eu desejava, o que eu queria... trazias contigo a doçura do teu olhar e a leveza do teu toque para o meu corpo amaciar... trazias o sol e o brilho das estrelas... trazias o sorriso estampado na pele e o cheiro da maresia quando se espalha na areia... trazias tudo o que um homem anseia... trazias o amor dentro de ti, o amor que se dá e não se regateia, o amor que sempre perdura mesmo quando partes... trazias a esperança no rosto e os lábios entreabertos prontos para o beijo, para o doce toque em que todos os sabores se transformam em mel... de braços abertos meu ser te aguardava, ansioso... certo da tua vinda, da tua chegada... e o abraço se deu num enlaçar de paz e de ternura... e todo o ser se deu e se recebeu e as mãos se entrelaçaram... e num serpentear de passos arrastados porque leves, os caminhos nos levaram... e o sabor a tudo num leito se aconchegou... e o amor que veio e o amor que esperou, por ali, naqueles instantes infinitos, se quedou e a si mesmos se entregaram na paz que só os que amam sabem sentir...”

23/05/2012

Saudades

“…Tenho saudades tuas… Queria ter-te aqui comigo, a meu lado, de mãos dadas ou de olhos nos olhos… Cingir-te a cintura e apertar-te contra mim e sentir teu corpo… Desejar o teu desejo… Ouvir teu coração bater com a minha face sobre o teu peito… Beijar-te a boca e saber-me dentro de ti… Sentir-me mais uma vez como as muitas que senti… Tenho saudades tuas… Chamar pelo teu nome… Ouvir a minha voz pronunciar esse som e saber-me respondido com o teu sorrir… Estar onde estás e saber-me contigo, aberto de mim para te receber em plenitude… Entrar no teu ser e saber-me lá residente, não ontem nem hoje mas, sempre… Perder-me no teu labirinto e jamais encontrar a saída… viver os caminhos e as esquinas que se cruzassem à nossa frente e deixar de conhecer o tempo que nos cerca… olvidar a dor da ausência do teu doce amar… Tenho saudades tuas…”

20/04/2012

Carta a meu pai

"...faz hoje 26 anos que partiste... Estás noutro local, um local para onde foste, um local de sossego, de paz, não é ?... Tenho saudades tuas, pai !... Lembras-te do dia em que nos disseste até breve ?... Lembras-te dos dias em que sempre estiveste a nosso lado, lembras-te de tudo de bom que se passou antes de ires, lembras-te de tudo de mau que se passou antes de ires ?... Recordas o dia em que eu nasci, recordas o dia em que passaste ao estatuto de pai ?... Sei perfeitamente que te recordas e que só por isso te valeu a pena viver; sei que viveste em função dos teus, daqueles que faziam parte da tua própria vida, daqueles que eram a razão da tua existência!... Sei muito bem o quanto sofreste por mim e por todos os teus; sei perfeitamente o quanto lutaste para que nada me faltasse, para que tudo estivesse sempre bem... Lembras-te do dia em que te faltou algo para que eu não sentisse essa falta ?... Lembras-te do dia em que não comeste para que eu tivesse comida ?... Lembras-te do dia em que poupaste nos cigarritos para que eu tivesse dinheiro para o meu tabaco ?... Lembras-te do dia em que tiveste de pedir a um amigo para teres dinheiro para mim ?... Lembras-te do dia, de todos os dias da tua vida em que passaste mal para que em todos os dias da minha vida eu passasse bem ?... Lembras-te ?... Sei que te lembras e sei que sabes que tenho saudades tuas... um beijo para ti, pai!..."

18/04/2012

O meu último cigarro

“… tudo aconteceu num ápice, num momento normal da vida… era cerca do meio dia e meia hora do dia 18 de Abril do ano de 1988 e encontrava-me de pé encostado ao balcão do café do Luís a comer uma tosta mista e a beber uma cerveja… de repente, a minha vista esquerda deixou de ver… tapei o olho direito com a mão e apenas via um cinzento prateado e uma mancha escura para o lado esquerdo… calmamente, continuei a comer, comi mais um bolito e bebi o meu café… saí normalmente, segui para o meu escritório e fui lavar a cara e deitar água para a vista… mas nada aconteceu, tudo se manteve na mesma… a pé, dirigi-me para a Clínica Santo António, ali perto, entrei, segui até ao balcão e com uma calma tremenda disse à funcionária: - Desculpe, estou a perder a visão, estou a sentir-me mal e a entrar em pânico… por favor, vá transmitir isto ao Médico (por acaso, havia Oftalmologia e havia um em serviço àquela hora)… a moça, muito atónita a olhar para mim, lá se levantou da sua cadeira e seguiu em direcção ao gabinete clínico… quando regressou, um minuto depois, disse-me: - venha se faz favor que o senhor doutor atende-o já… depois de agradecer lá segui para a sala de espera… de dentro do gabinete saiu um doente e eu entrei de imediato… contei o que se estava a passar, fui bem examinado e o diagnóstico foi-me dado logo ali: - o senhor acaba de ter um AVC e precisa de ir imediatamente para a Neurologia. Aguarde um momento que eu vou ver se o meu colega está de serviço… ali fiquei a aguardar… a calma aparente obrigou-me a acender um cigarro, o último que fumei, seriam cerca das 15 horas desse dia… quando o oftalmologista regressou levou-me para o gabinete da neurologia onde o especialista me examinou e confirmou o diagnóstico anterior… passou-me um relatório e disse-me para ir ao Delegado de Saúde carimbar o chamado P1 para poder ir fazer de imediato um TAC… assim fiz… no dia seguinte, de manhã, obtido o documento segui para o Porto onde fiz o dito exame… deitei-me na bela marquesa do túnel do terror e surge um enfermeiro de seringa na mão… aí eu disse: - Um momento por favor: o que vai fazer?... ao que ele me explicou ir injectar-me o iodo para contraste e que iria sentir um ardor na cara que desceria pelo peito até às pernas e que desapareceria nos pés… (assim, na verdade, aconteceu) mais descansado, fiquei estático com a cabeça presa por uma fita e disseram-me para não me mover e olhar para uma luzinha vermelhinha que estava por cima da minha testa… e, pronto, ao fim de uns minutos, saí do túnel e mandaram-me esperar para ver o resultado… havia, na verdade, sofrido um pequeno acidente vascular cerebral provocado por arteriosclerose tabágica (durante 27 anos havia fumado 2 maços diários)… mandaram-me embora com a famosa receita da Aspirina 100 e que deveria ser seguido pela especialidade e fazer uns campos visuais de quando em vez… entretanto, a cegueira foi abrandando apesar de ter durado 33 horas… segui os conselhos e, nunca mais fumei… faço assim, hoje, 24 anos sem tabaco… creio que foi uma vitória apesar de a ter conseguido por ter apanhado um dos maiores sustos da minha vida… e aqui acabei de contar a minha odisseia de como parei de fumar…”

13/04/2012

Anatomia do beijo

“…coloco um beijo na palma da minha mão e olho-o para o estudar, para o entender, para saber algo mais sobre ele… a sensação é apenas de toque suave dos meus lábios na palma da minha mão… nada mais retenho que o saber que senti a minha pele tocada pela minha própria boca… preciso saber mais sobre o beijo… examinar minuciosamente de forma a sentir o beijo como algo físico, palpável, real… então, aproximo-me de ti e olho-te nos olhos, nesses olhos que brilham dentro de mim como se tu não estivesses ali mas aqui, como se tu fosses parte do meu ser… toco-te com as minhas mãos nos teus ombros e dou um passo em direcção a ti… tua face serena, abre-se num sorriso… levo a minha mão aos teus cabelos e acaricio-os deslizando na seda dos mesmos… os nossos corpos encostam-se ao de leve num toque global presente sem ausência de sentidos, bem pelo contrário, com os sentidos todos em alerta… olho a tua boca entreaberta nesse sorriso que me encanta e seduz… és luz… és sol… és brilho em meu redor… humedeço meus lábios e aproximo-me lentamente da tua face… toco com eles ao de leve na pele que reluz perante o meu olhar… sinto o sal… um sabor leve a mar… os meus lábios tocam as tuas pálpebras fechadas para receber o meu beijo… sinto um suave sentir, um sorrir no olhar como se de outra boca se tratasse… retiro a minha boca e olho-te de novo… preciso saber o porquê do beijo saber a tudo o que tu és, numa dimensão de ser paz, doçura, mel e mar… vejo-te humedeceres os teus lábios e muito suavemente toco-os com os meus… mantenho a minha boca ao de leve no teu lábio superior e de seguida saboreio o teu lábio inferior… e sinto amor…sinto que preciso de sentir mais, de saber mais e melhor o porquê da paixão… é nesse momento que toco em completo a tua boca e saboreio o mel que tal sensação me transmite… as línguas tocam-se ao de leve para em seguida se fundirem num só beijo, num só toque… já não são duas bocas que se beijam pois é apenas o beijo em si mesmo que ali se encontra, se forma, se transmuta, se torna ávido e sereno ao mesmo tempo… mantemos o sentir tais sentidos, leves, lábios mordidos, línguas entrelaçadas e o sabor doce penetrar em permuta o âmago daquela sensual luta de pele com pele, de alma com alma, de corpo com corpo… e a paixão nasce daí e cresce em mim como em ti… saboreamos o momento… entramos em transe e deixamos de ser quem somos… e o beijo perdura num planar de doçura… e o beijo se torna dono de nós num galopar de sensações plenas, profundas mas de tal forma suaves e serenas que o beijo deixa de ser beijo para passar a ser desejo…”

27/03/2012

Adormecendo

“… deixa enroscar-me nos teus braços… coloca tua mão na minha cabeça e enrola os teus dedos nos meus raros cabelos… baixa um pouco a tua fronte e beija a minha boca… deixa enroscar-me no teu colo… sentir a tua maciez e ver de baixo para cima o teu sorriso… ver-te junto a mim e saber-te ali comigo… de tal forma que quando olhas eu sou o teu olhar… de tal forma que quando sorris eu sou os teus lábios… de tal forma que quando me afagas eu sou a tua mão… de tal forma que quando me tocas eu sou o teu corpo… de tal forma que quando me olhas eu sou o teu olhar… deixa pousar o meu cansaço na tua serenidade e sentir a tua paz na minha guerra… baixar as armas e sentir a trégua na tenda que se ergue no deserto da batalha… humedecer as mãos na brisa da água que corre no ribeiro que nos circunda… lavar a cara na frescura do vento que nos embala… sentir que nem tudo é real mas que o sonho nos preenche… sentir que, por vezes, só o desejo chega, só o querer basta, só o pensar nos satisfaz… deixa-me ser não só a realidade mas também o que não somos… deixa-me olhar para dentro de ti e ver-me inteiro… deixa-me tocar-te com o sonho e saber-me parte dele como sei que ele é uma parte do meu eu verdadeiro…”

26/02/2012

Tenho saudades tuas

"...Tenho saudades tuas... Queria ter-te aqui comigo, a meu lado, de mãos dadas ou de olhos nos olhos... Cingir-te a cintura e apertar-te contra mim e sentir teu corpo... Desejar o teu desejo... Ouvir teu coração bater com a minha face sobre o teu peito... Beijar-te a boca e saber-me dentro de ti... Sentir-me mais uma vez como as muitas que senti... Tenho saudades tuas... Chamar pelo teu nome... Ouvir a minha voz pronunciar esse som e saber-me respondido com o teu sorrir... Estar onde estás e saber-me contigo, aberto de mim para te receber em plenitude... Entrar no teu ser e saber-me lá residente, não ontem nem hoje mas, sempre... Perder-me no teu labirinto e jamais encontrar a saída... viver os caminhos e as esquinas que se cruzassem à nossa frente e deixar de conhecer o tempo que nos cerca... olvidar a dor da ausência do teu doce amar... Tenho saudades tuas..."

19/02/2012

Adeus, Mãe

...E PORQUE TODOS LHE DERAM OS PARABÉNS QUANDO ELA FEZ 96 ANOS... E PORQUE É DE MINHA VONTADE, VENHO DIZER QUE A MINHA MÃE PARTIU ESTA NOITE EM COMPLETA PAZ...

18/02/2012

Por amor

«Um até já, meu amor, que por amor se corre e por amor se não percorre... um até já, meu amor, pelas correrias que correste e pelas paragens à minha espera... um até já, meu amor, pelo amor caminhado, pelo amor parado como os dias que correm á nossa frente e nos arrastam irremediavelmente para essa morte... a morte do amor que de amor morreu no dia em que em vez de um até já, me disseste adeus...»

10/02/2012

Nunca te falei de amor

“... nunca te falei de amor... tenho falado imenso sobre como amar ou sobre o que é amar ou sobre a diferença entre o amar e o gostar... tenho falado muito sobre como é que sabemos quando estamos a amar, quando sabemos o que é amar... como é amar, porque amar é o único caminho... mas nunca te falei de amor... nunca te falei desse sentimento lindo que me envolve numa capa protectora e me faz sentir feliz e bem disposto... nunca te falei desse sentimento tão nobre e tão belo que nos faz sentir o principe dos contos de fadas... nunca te falei de amor apesar de já ter falado tanto de como amar-te... é fácil amar-te... é bom amar-te... é tão doce saber que te amo, que te estou amar como é doce saber que me amas, que me estás a amar... é tão simples e tão perene o saber que amamos, que nos amamos, que somos um só apesar de formados por dois seres distintos... é tão bom amar-te... tão simples amar-te... tão doce saber-me amado... pois, mas nunca te falei de amor... do que é o amor, de que é que ele é feito e do que é que ele nos faz... como tenho dito, quando falo de amar, amar é sofrer, por isso e em primeiro de tudo, o amor é dor... é uma dor que nos preenche o peito e se alastra pela alma adentro como se de uma doença se tratasse... depois, não tem cura e a febre sobe e o amor recrudesce e enobrece quem ama... o amor é o fruto do acto de estarmos a amar... por isso, o amor dói... é como se fosse um parto com dor, quando se ama... do acto de amar nasce o amor e desse nascer, dessa alvorada de luz, a dor povoa-nos e cerca-nos para o resto das nossas vidas... amar é tão simples, tão fácil, tão bom, tão doce... é apenas doarmo-nos ao outro numa entrega total e sem esperar nada no retorno... daí que seja fácil pois dar é apenas uma acção... o amor é o que nasce, o que vem, o que surge dessa acção, dessa atitude de dádiva... e, por isso, dessa dacção, dessa entrega, algo sai de nós, algo se desprende de nós e é esse algo que transforma o acto de amar numa dor profunda, numa dor quente, numa dor sem dor mas que dói... e é nessa dor que sentimos que se ama, é no sentir dessa dor que sabemos que estamos a amar e a sermos amados... é nessa dor que se nos revelamos um ao outro com a fusão de dois seres num só... e nessa fusão, o amor é... e ele só o é, ele só existe, ele só é real se nos fizer doer... e quão purificadora é essa dor, quão sereno é esse sofrer, esse acto de querer, esse acto de receber já que amar é dar, o amor é o que se recebe e nesse saber que temos algo que nos é dado pelo outro, sabemos porque a dor, a partir daí, se instala, vibra, arrepanha, angustia, inebria também, anestesia-nos e a dor se transforma, por aceitação, na mais doce forma de amarmos... se não sentires que te dói então é porque não amas... bendita, pois, a dor que me invade, que me transcende e me faz saber o quanto te amo!...”

28/01/2012

Anatomia de um beijo

“…coloco um beijo na palma da minha mão e olho-o para o estudar, para o entender, para saber algo mais sobre ele… a sensação é apenas de toque suave dos meus lábios na palma da minha mão… nada mais retenho que o saber que senti a minha pele tocada pela minha própria boca… preciso saber mais sobre o beijo… examinar minuciosamente de forma a sentir o beijo como algo físico, palpável, real… então, aproximo-me de ti e olho-te nos olhos, nesses olhos que brilham dentro de mim como se tu não estivesses ali mas aqui, como se tu fosses parte do meu ser… toco-te com as minhas mãos nos teus ombros e dou um passo em direcção a ti… tua face serena, abre-se num sorriso… levo a minha mão aos teus cabelos e acaricio-os deslizando na seda dos mesmos… os nossos corpos encostam-se ao de leve num toque global presente sem ausência de sentidos, bem pelo contrário, com os sentidos todos em alerta… olho a tua boca entreaberta nesse sorriso que me encanta e seduz… és luz… és sol… és brilho em meu redor… humedeço meus lábios e aproximo-me lentamente da tua face… toco com eles ao de leve na pele que reluz perante o meu olhar… sinto o sal… um sabor leve a mar… os meus lábios tocam as tuas pálpebras fechadas para receber o meu beijo… sinto um suave sentir, um sorrir no olhar como se de outra boca se tratasse… retiro a minha boca e olho-te de novo… preciso saber o porquê do beijo saber a tudo o que tu és, numa dimensão de ser paz, doçura, mel e mar… vejo-te humedeceres os teus lábios e muito suavemente toco-os com os meus… mantenho a minha boca ao de leve no teu lábio superior e de seguida saboreio o teu lábio inferior… e sinto amor…sinto que preciso de sentir mais, de saber mais e melhor o porquê da paixão… é nesse momento que toco em completo a tua boca e saboreio o mel que tal sensação me transmite… as línguas tocam-se ao de leve para em seguida se fundirem num só beijo, num só toque… já não são duas bocas que se beijam pois é apenas o beijo em si mesmo que ali se encontra, se forma, se transmuta, se torna ávido e sereno ao mesmo tempo… mantemos o sentir tais sentidos, leves, lábios mordidos, línguas entrelaçadas e o sabor doce penetrar em permuta o âmago daquela sensual luta de pele com pele, de alma com alma, de corpo com corpo… e a paixão nasce daí e cresce em mim como em ti… saboreamos o momento… entramos em transe e deixamos de ser quem somos… e o beijo perdura num planar de doçura… e o beijo se torna dono de nós num galopar de sensações plenas, profundas mas de tal forma suaves e serenas que o beijo deixa de ser beijo para passar a ser desejo…”

15/01/2012

Basta

...eu tinha qualquer coisa para te dizer, algo que já anda dentro de mim há milhares de anos e nunca tive essa oportunidade...

...há dias, quando surgiste na minha vida, um pouco alheada do próprio mundo, quando ali surgiste espelhada na minha alma, eu estive quase quase para te dizer...

...penso que me faltou a coragem e a voz se me embargou; calei dentro de mim o que deveria ter gritado; talvez tenha esquecido a forma de gritar, talvez só saiba calar... não sei... já não sei...

...mas eu tinha qualquer coisa para te dizer, algo que me possui e me rasga a mente, num acto demente do meu próprio ser de aqui estar sem saber falar, sem saber o que te dizer, sem saber gritar o que tanto tenho calado... milhares de anos de silêncio dentro de mim...

...milhares de anos de solidão da minha própria voz; milhares de anos de espera que surjas ali à esquina, em qualquer lugar, e num momento de paz eu te possa gritar todo o meu amor...

...áhh dor que dói e me corrói a alma de tanto calar esta tão louca forma de te amar... dor de aqui estar e não saber o que te dizer, de não saber traduzir esta minha forma de tão somente te sorrir...

...e sorrio-te a todo o instante, aqui, ali, em qualquer lugar ainda que distante... não me preocupa se me ouves, se escondes as palavras que tão docemente me são devolvidas porque não enviadas; doces palavras de paz, ternura, carinho, amor... em doses de candura mas eivadas de toda a minha dor...

...estão aqui mas sei que tinha qualquer coisa para te dizer; como posso gritar se a voz se me tolda em silêncios ocos e sem eco ou se com eco ecoam apenas dentro do meu vazio, um vazio que não preencho ou se preencho apenas o preencho com a minha própria alma já de si tão gasta por durante todos estes milhares anos não me teres dito: Basta!...

10/01/2012

Sinto

Sinto que não sinto o que queria sentir; não sei se o que sinto é ou não o sentir do que sinto que não sinto sentir-se dentro de mim; desespero na angústia angustiada de me ver assim, nú, despido do nada, vestido numa pele cansada que cobre um corpo cálido mas tremente não de frio mas de quente; de um calor sem dor mas abrasador. E é este frio que me aquece num conforto dolente que me adormece neste deambular lento que até parece que fenece como flor varrida ao vento que não se esquece. Sinto que minto a mim mesmo na procura de não sentir o que sinto e não queria sentir. Vomito então o que quero esquecer mas sufoco no próprio vómito. Desejo indómito que não pára nunca de me dominar. Onde estás força de vontade de gritar? Onde estás prece urgente de abalar? Onde estás desejo prenhe de tortura? Já não sinto. Tenho de ir. Preciso dormir.

05/01/2012

Toque

"... deito a cabeça no teu regaço... olho-te a face serena... e teus lábios sorriem... tuas mãos se envolvem nos meus cabelos e a massagem leva-me ao sonho... fecho os olhos e deixo-me vogar no teu corpo... dentro de ti... à tua volta... mesmo sem te tocar te sinto... tuas mãos tocam o meu ser como se nos meus lábios estivesse todo eu, como se a minha boca fosse todo o meu corpo... teus dedos leves e suaves me transportam, nesse toque, para lá de mim mesmo e me deixo ficar por momentos apenas nesse espaço, nesse limbo, nesse suave sentir de seda e com sede de um beijo... é esse beijo que acontece a seguir... é esse toque que me faz emergir de mim para imergir-me em ti... apenas um leve sabor a pétala duma qualquer flor... apenas um leve sabor e tudo o que nos rodeia a seguir é tão-somente o amor..."