
31/01/2009
30/01/2009
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15/01/2009
14/01/2009
O uivo
Levantou-se com um sobressalto, que a fez erguer a coluna num impulso sôfrego, um nó de desespero atado na garganta. Segurou-a com uma das mãos, como se contivesse a respiração ainda ofegante. A escuridão estava toda emersa numa tonalidade azul, criando uma atmosfera quase irreal no interior do quarto. Uma estranha luminosidade vinha do exterior, e penetrava no quarto pelo espaço entre as velhas cortinas desbotadas. Dirigiu-se à janela como se algo a chamasse. Espreitou por trás do veludo envelhecido do reposteiro e viu um vidro quebrado, estilhaçado no canto inferior esquerdo. Formava um desenho perfeito de uma teia. Tocou-lhe e automaticamente levou o dedo à boca, sugando o sangue do corte que acabara de sofrer. Soltou um breve gemido de dor, frustrado de fúria. Lá fora, a lua erguia-se gigantesca, majestosa, rodeada de uma aura azul intensa, que cobria todas as coisas de improváveis reflexos. Sentiu um incómodo arrepio, como uma fria corrente enferrujada a mover-se no interior da espinha. O espaço à sua volta, de súbito, ganhava novos contornos. Estremeceu perante um breve desacerto do mundo. Julgou ouvir ruídos, um estalar de madeira, ecos de passos atrás de si, o som das sombras a mover-se pelas paredes do quarto. Voltou-se e tremeu. Deu dois passos incertos, esquecida do próprio corpo. O chão estava alagado; os pés descalços enregelados. Ouvia uma torneira aberta, que pingava lentamente. O som adensava-se segundo a segundo, ecoava pela casa toda, cada vez mais próximo, cada vez mais grave, cada vez mais alto, com requintes de tortura. Segurou a cabeça entre as mãos, crispando os dedos entre os cabelos, tapando os ouvidos quase até ao limiar da dor. Enlouquecia. Abriu as portadas e saiu. Correu para a floresta que se estendia, negra e silenciosa, a sul da casa. Não se vestiu. A camisa branca de algodão finíssimo esvoaçava enquanto corria. Um som distante, longínquo, como um uivo, envolvia agora todo o espaço entre as árvores. Tudo à sua volta permanecia assombrosamente azul. Olhava para o céu e os seus olhos cintilavam, fazendo perguntas às estrelas ausentes. Correu a um ritmo alucinante, rasgando a noite escura com a sua deslumbrante figura pálida. Se pudéssemos congelar o momento, encontrar-se-ia a mais bela fotografia do mundo. Era atrás do lobo que corria. Um lobo que conhecia sem nunca ter visto, que a chamava sem nunca ter tocado um fio dos seus cabelos. Sonhara com ele durante seis noites seguidas, um segundo mais cada noite, até que o sonho a puxou para dentro e ela foi ao seu encontro. Correu atrás dele, movida pelo sonho, dominada pela loucura. Corria como se perseguisse a própria vida, e gritava. Gritava o nome do seu amor, como se lhe respondesse. Correu até ficar sem forças, lentamente vergou os joelhos e deixou-se cair no chão húmido. Tinha chovido nas horas anteriores, muito certamente. Cravou as mãos na terra até que esta lhe doesse, negra e perfumada, entre as unhas. Sentiu um frio muito fino percorrer-lhe a parte de trás do pescoço, desde a nuca, descendo até à cintura. Depois um calor imenso a escorrer-lhe pelos braços. Tinha o lobo junto do seu corpo, o seu olhar ferido de medo. Aproximou-se do seu rosto, conseguia sentir-lhe a respiração na face gelada. Mergulhou os dedos finos no pêlo em redor do pescoço, num gesto ambíguo. Como se segurasse, como se repudiasse. Sentia-o roubar-lhe o sopro de vida, ao mesmo tempo que a alimentava de uma inexcedível sensação de eternidade. A escuridão era tão intensa que a noite parecia estender-se sobre todas as coisas, sem limites, insondáveis as suas profundezas. Reinava uma calma inquietante. O seu coração pulsava acelerado dentro do peito, o olhar num fervilhar insustentável de paixão. Olhou à volta, demorando um segundo a reconhecer o espaço do quarto. Um segundo depois, o outro lado do pesadelo: Está um homem ao seu lado. Está frio. O branco dos lençóis tingido de vermelho. Do corpo imóvel e pálido escapa-se um fio rubro e espesso. O olhar preso no infinito. Um último gesto de angústia suspenso na mão. A boca entreaberta, fixo nos lábios um suspiro, com o nome do seu amor.
(prefácio do meu livro “Lobices”)
(prefácio do meu livro “Lobices”)
13/01/2009
12/01/2009
O "3 patas" atravessando o riacho

Depois de ter saciado a sede, tal qual artista de circo ali vai ele atravessando o riacho saltitando sobre as pedras escorregadias numa espécie de gincana... e conseguiu... o cão não é meu, é propriedade da minha praia e sempre que lá vou o vejo
09/01/2009
08/01/2009
07/01/2009
06/01/2009
Deuses

05/01/2009
04/01/2009
03/01/2009
Teimosamente
“…teimosamente, os representantes de Cristo na Terra, mesmo com 2000 anos já passados, como que ainda estando escondidos nas catacumbas de Roma, dizia eu que, teimosamente esses representantes continuam a esconder Cristo dos Homens, através de atitudes que a Igreja Mãe, Católica Apostólica Romana, continua a ter ao não permitir que Cristo seja visto por todos os Homens, como Alguém que está sempre ao nosso lado, sempre presente em todos os actos da nossa vida, dando-nos a Sua mão, dando-nos o Seu amor de paz, dando-se Ele próprio como numa catarse de unidade e amor global... os representantes de Cristo na Terra continuam a fazer separações no seu rebanho, por vezes não procurando recuperar as tresmalhadas, por vezes não procurando amar as que verdadeiramente precisam de amor, por vezes dando atenção às hipocrisias no templo e ficando desatentos aos que, temerosos, não sentem a coragem de pedir ajuda... teimosamente, continuam a não deixar ir a Ele as "criancinhas" cabendo nesta classificação todos aqueles que ainda são "novos" nos caminhos para Deus... teimosamente, continuam a tapar Cristo dentro dum Sacrário, dum Cofre, para que Ele não saia por aí dando o Seu amor a toda a gente… teimosamente, continuam a abrir o Sacrário apenas àqueles que muitas vezes brancos por fora se encontram escuros por dentro… teimosamente, continuam a abrir o Sacrário apenas quando entendem que o devem abrir e não quando lhes pedem para que o abram: "Eu sei, meu Deus, que não sou digno que entreis na minha morada, mas também sei que uma só palavra Tua e a minha Alma será salva!"… teimosamente, continuam a não dar ouvidos àqueles que ávidos de Amor Divino, lhes pedem tão-somente uma palavra de conforto, um ouvir duma lamentação, uma confissão para que o coração se purifique, um pouco do Corpo de Cristo para que as suas Almas sejam salvas... teimosamente...continuam a esconder Cristo ao Homem...”
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