16/06/2006

dificuldade

“… Existe uma enorme dificuldade em se pronunciar a palavra “Amo-te”… na verdade, a qualquer um de nós, dizer à pessoa de quem gostamos que a amamos é um verdadeiro desafio… e, muitas vezes, engole-se em seco e não conseguimos dizer e ficamos com uma vontade enorme de bater em nós mesmos por não sermos capazes de fazer uma coisa tão simples como dizer uma palavra tão serena… no entanto, é o nosso subconsciente que tem “medo” de a pronunciar porque ela encerra uma enorme carga de sentimentos e de responsabilidade… há, no entanto, quem a use de tal forma simples que a torna tão usual e normal pela leviandade com que a pronuncia… quando se diz a alguém: “Amo-te”, não estamos a dizer: “Gosto de ti”… existe uma enorme diferença, eu diria mesmo um abismo entre as duas formas… gostar é demasiado fácil e muito egoísta, porque quem gosta de algo é porque esse algo a satisfaz… amar não é tirar satisfação do outro, amar é entrega, é dádiva, é querer que o outro tire de nós… quando souberes que és capaz de dar a vida por alguém, por exemplo, podes dizer com propriedade que amas esse alguém por quem estás disposto a dar a vida se preciso for… quando estiveres convicto que amar é dares-te e não obteres, então podes dizer ao outro: “Amo-te”… não pronuncies nunca a palavra que te compromete, que te “obriga” a um compromisso para com o outro, mesmo que seja por pouco tempo… amar é tão-somente e apenas uma entrega absoluta e total de alguém a outro alguém… se não estiveres certo de que estás pronto para essa entrega então mais vale não dizeres que amas porque, na verdade, não amas, apenas gostas… é, portanto, preferível abafar a palavra do que a dizer levianamente… daí que, ouvir alguém dizer-nos: “Amo-te” é ficar com a certeza de que somos “donos” de quem o afirma… é ficar com a certeza de que, na verdade, podemos “tirar” tudo dessa pessoa porque ficamos a saber que ela se nos dá inteira, de corpo, alma e coração… mais vale não dizer que amas alguém se para ti essa forma de amar não for sinónimo de dádiva… e não tenhas vergonha de não seres capaz de amar porque amar é um estado de alma e não um estado físico… para amares, precisas de te amar a ti primeiro… quando conseguires amar-te a ti mesmo, então saberás que estás apto a amar o outro…”

15 comentários:

  1. É isso mesmo!
    Até amanhã:)
    beijos

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  2. É, realmente, desolador que a palavra seja utilizada tão levianamente nos tempos que correm.

    Será porventura a necessidade de se sentirem amados que faz com que alguns de nós assumam essa responsabilidade sem que verdadeiramente a sintam?

    Assusta-me que assim seja...assusta-me a coragem com que alguns "Amo-te" sejam proferidos no calor do momento, sem, no entanto, estarem sequer próximos dessa ambicionada fronteira.

    Sempre vi o amor como a verdade suprema, a única à qual me vergo perante o seu poder, nada evidente, mas ao mesmo tempo pragmática, como só a simplicidade o pode ser. Estou cada vez mais convencida que é pelo amor, o verdadeiro, que faz sentido viver e também a única razão pela qual vale a pena morrer, como diz o amigo Gabo Garcia Marquéz.

    Parabéns pelas palavras, Lobices, mil vezes parabéns!

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  3. O seu texto "mexeu" comigo. Creio que pela verdade. Pela sinceridade. Pelo que realmente vale a pena na vida... amar com autenticidade.

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  4. Voltarei. Dou-me à liberdade de linkar!

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  5. Concordo com a distinção que fazes. A palavra está realmente banalizada e muitas vezes utiliza-se sem se ter a noção do que ela implica.
    Não sei se viste o último episódio da série "Sex and the City". Uma das 4 amigas (a que se casou com o pai do filho) recebeu na sua casa a sogra que começava a apresentar os primeiros sintomas da doença de Alzheimer e que, nesse episódio, se perde e é encontrada na rua toda suja. Ela leva-a para casa e dá-lhe um banho com muito carinho. A empregada (uma estrangeira já não muito nova que fica com o bébé), quando vê, dá-lhe um beijinho e diz-lhe: "You love". É uma cena muito bonita.

    Desejo-te um bom fds. Um bj.

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  6. Claro que existe uma enorme diferença entre gostar de... e amar e tu soubeste traduzi-la muito bem.
    A idade traz-nos um agrande sabedoria de vida, não é Quim?:)
    Beijinhos e bom fds.

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  7. Sou, definitivamente, um leitor, assíduo, destes preciosos textos.

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  8. só pode ser verdd o que dizes, amar assim com desprendimento é facil..esse amar desprendido de que falas passa muitas vezes por enganos e ilusões, quando achamos que encontramos o eco da nossa alma, qdo conseguimos nos perder no cheiro do outro e sentimos que de alguma maneira já não podemos conceber a nossa existência sem a existência do outro. O amor/paixão torna-se colossal e depois, no tempo decresce até conseguirmos olhar o outro e o ver como mero estranho. Sabes Lobo, não há amor maior, mais puro, menos tranquilo e mais aflito e urgente que o amor mãe/pai/filho.
    E comparado a este, o amor dos amigos que tranquilo vai crescendo nas margens do tempo, porque aceitamos os outros na mesma aceitação deles para nós. E quando vem um "tal", o "tal", a alma gémea (existirá?, pergunto-te) aceitamos inicialmente com o fogo da paixão, depois calidamente com o fogo da mudança da paixão ao amor, depois serenamente, com o amor calmo e depois, se não se agarrar o inicio, o desprendimento,e depois deixamos de aceitar o outro, acabamos com acusações e culpas, dores e angustias menores a cobrir os dias, a dizer-nos que o amor é um comboio perdido ou um navio que zarpou antes de nós estarmos prontos para a entrega.
    O amor, Lobo, a dificuldade de repetir a palavra, como diz cantando a manuela azevedo e o seu problema de expressão mostra tanto dos medos e responsabilidades que parecemos ter face ao amor.
    Mas que é o amor senão o estarmos aqui e bem, e nos aceitarmos como somos? porque as exigencias e a busca da perfeição no outro se não o fazemos em nós? Que buscamos?
    O amor é e constroi-se quando já vamos tendo tempo para ele, até lá são paixões para nos afastar de nós, nos outros...busco ainda pistas do tal, já tão perto dos 40. (creio tê-lo encontrado puro ha quase 20 e o ter perdido pelo egoismo). Se me souberes dizer como se vive o amor sem o avesso, acreditarei que as palavras pesam bem menos que a carga de emoções q este envolve, quando existe por si mesmo. Beijo. Bom fim de semana para esse teu amor. (ganda Deco, ganda golo)

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  9. Sim, há uma grande diferença entre gostar de e amar. Na verdade eu nunca disse a ninguem "amo-te", talvez por sempre ter dado grande valor à palavra e ter um certo receio de a pronunciar em vão...Além disso acho que nunca gostei suficientemente de mim própria, talvez isso não me permita amar de corpo e alma, não sei bem...No entanto sou casada há mais de uma década e tenho a certeza que não há ninguem à face da terra de quem eu goste mais do que da minha cara-metade, mas nunca lhe disse que o "amo", é algo que está subentendido.Também nunca disse aos meus pais o quanto os amo e eles também nunca me disseram que me amavam, mas sei que sou e sinto-me amada por eles...é a tal coisa, está subentendido...Parabéns pelo texto, já cá tenho vindo várias vezes e fico sempre a pensar no que li ou vi!Tens muito gosto, no que escreves, vê-se que há sentimento.Um beijinho para ti e para a tua mãe!

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  10. Não poderia eu estar mais de acordo ctg... hoje a palavra amor é banalizada pela facilidade com que se diz "amo-te".
    Tv pk as pessoas acreditem ainda que "amo-te" é uma afirmação para o gostar muito.
    Mas o amo-te é uma entrega total... a disposição de ir ao limite de tudo... é querer ser tudo onde tv exista o nada.
    É não nos importarmos em dar mesmo que o receber seja nulo... "amo-te" é o que nos completa. Eu já disse a palavra "amo-te" algumas vezes e em todas elas numa entrega total, eu morreria por esse amor!

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  11. ...E ama-se de tantas formas, e, sabes?..., eu não tenho dificuldade nenhuma em te dizer que te amo com carinho e amizade.
    Que bom foi rever-te e falarmos de gentes que nos são comuns.

    Beijo grande da Lina/Mar Revolto

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  12. Este teu texto é soberbo e muito profundo. Fizeste-me interiorizar com a força das tuas palavras uma equação que ando adiando á muito tempo.
    Obrigada pela partilha.
    Deixo um beijo

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  13. Pois feliz de mim por ter encontrado no Amor agora nascido a necessidade de dizer Amo-te, de dizê-lo sempre, só porque sim, porque me apetece... e, Feliz de mim porque essa necessidade vem de a toda a hora, também, ouvir dizer Amo-te minha querida. É essa recíprocidade que nos faz assim felizes na construção do que sabemos querer, nas certezas do que representamos um no outro. Felizes nós por ainda termos tido tempo para descobrir e deixar acontecer o Amor assim.
    Obrigada pelo texto bonito.
    Um beijo de felicidade

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  14. Então... muitas vezes na minha vida, eu também não sei o que é amar.
    Pois.... não sei não.

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