30/06/2008

Presenças

“... as presenças são o tudo que se deseja vivenciar... entregamo-nos ao olhar, ao toque, ao sabor, à doce noção de que estamos exactamente onde e como o havíamos desejado... as presenças são o terminar da ânsia e o início da suave cedência à ternura e ao começo da tão almejada aventura... as presenças são o tudo por que lutámos na véspera e na antevéspera e nos dias que as antecederam... não sabemos, à vezes, quantas vésperas esperamos até ao dia chegar... umas vezes, o tempo passa mais depressa, outras vezes, ainda que demore o mesmo, tendem a passar mais depressa porque a ânsia o empurra e o dia de amanhã torna-se o hoje futuro do dia de ontem que se houvera esperado... mas, passe o tempo que passar, as presenças que se tornam presença, esquecem a ausência e se transforma na entrega que se aguardou... e a presença vive das presenças que as ausências não deixam viver... e a entrega flui e o mel barra o pão doce do corpo que o forma ora em suaves sabores, ora em orgias de paladares que se confundem por tão diversos e contínuos em que se tornam... e as presenças amornam então em carícias que só mesmo as presenças permitem... mas o tempo voa e desaparece porque enquanto presentes não damos por ele passar... e, de repente, sem darmos por isso, a ausência se torna de novo presente na presença das presenças e deixa que estas esvaziem os corações numa dor surda e desmedida porque sabedores da partida... e as partidas aparecem de repente e as mãos tentam segurar o tempo que resta mas a força da partida depressa faz deslizar os dedos pelos dedos até ficarem no toque das pontas uns dos outros... fica também o beijo doce da despedida e o doce olhar, ainda que triste, da partida... mas breve, o sorriso de novo surgirá porque rápido uma nova presença virá e o ciclo se fecha num círculo de desejo até que uma nova presença se transforme ela só no mais terno e sedento beijo..."

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