16/01/2011

Poema

“…deixem-me ser um poema!... deixem-me ser todo eu um livro… queria ser todo eu algo escrito, algo para dizer ou ser dito!... queria ser todo eu um poema para num livro à tua cabeceira pousar, sentir-me ser lido e nas tuas mãos versejar... deixem-me ser um poema!... se o livro que desejo ser, em livro um dia se tornar, que seja o livro do livro lido por todos os que precisam de amar... sou assim, o poema desta manhã, as palavras desta tarde e os sons desta noite… sou a manhã deste poema e a tarde destas mesmas palavras, a noite dos sons do fogo que arde... sinto assim a sua fragrância, numa ânsia de palavra dita ou mesmo de palavra escrita... sinto o odor do poema versejado, ouvido, relido, mirado, querido ou até mesmo odiado... sinto o cheiro da palavra que escrevo ou da palavra que leio... sinto o poema dentro de mim com a manhã a nascer em ti ouvindo a tarde adormecer na noite do teu sonho de prazer... sinto-me poema... sinto-me verso… sinto-me palavra... sinto-me viver... deixa-me ouvir... deixa-me ler, porque não quero sentir a dureza do insulto que o silêncio em mim provoca... não quero ouvir os gritos lancinantes dum silêncio que tanto me choca… quero ouvir as palavras ditas… quero ler as palavras escritas… quero ouvir os sons que elas me trazem… quero ler as tonalidades que elas fazem… quero sentir o impacto do dito… quero sentir o embate do grito... não quero ler a palavra não escrita... não quero ouvir o silêncio do livro vazio... não quero escutar o silêncio do dito não dito… quero sentir a pureza da voz que a palavra escrita me traz… quero sentir o estrondo do grito que a palavra dita me faz... quero sentir que és… quero sentir que estás... quero sentir as palavras e quero os livros com elas gravadas!... deixem-me ser um poema!... escrevo assim o poema desta manhã com as palavras da tua tarde e os sons da nossa noite e, se a noite chegar, sem que a manhã tenha surgido, não tenhas receio, não tenhas medo, porque mesmo assim eu te leio...”

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