21/08/2006

primeiro

"... havia uma necessidade enorme de estar lá... não era somente desejo, era mesmo imperativo, quase mais que obrigatório... mas sentia que as pernas não se moviam e os braços estavam caídos numa postura de desalento... deixei-me ficar assim ainda mais um momento... tentei, então, mais uma vez, caminhar naquela direcção e fiz um esforço enorme para conseguir mover um pé... sabia que nem era necessário ter fé, bastava mover o pé... senti que uma fina dor me percorria a coluna mas nem por isso deixei de tentar... era preciso ir, era preciso caminhar... no fim do caminho estava apenas a meta a atingir mesmo sem saber qual ela era; no entanto, era certo saber que estava no fim da estrada, no meio do arvoredo... olhei em frente, sem frio, sem aquele frio do medo... havia apenas uns braços abertos e um sorriso na face; e uns olhos brilhando... ouvia um som repetido, uma batida ritmada... esse som chamava-me, clamava por algo que eu não sabia ser o que era... num tremendo e último esforço a minha perna avançou e senti que a coluna se fixou... houve uma espécie de tontura mas o esforço valeu a força precisa para fazer avançar o outro pé... nesse momento senti-me cair mas não cheguei a tocar o chão... uns braços fortes enlaçaram-me e elevaram-me no ar... só muitos anos mais tarde vim a saber que aquele tinha sido o meu primeiro passo..."

8 comentários:

  1. Não me lembro do meu primeiro passo. Sei onde foi: no antigo café "Costa Nova" na Costa da Caparica e foi a dona, a D.Irene, que me amparou. Durante muitos anos, até o Costa Nova desaparecer para dar lugar a mais um Centro Comercial, era esta a história que a D. Irene, todos os Verões gostava de me contar... Obrigada por me ajudares a recordar.
    Beijo

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  2. Importante esse primeiro passo. Talvez o esqueçamos mas ficará para sempre gravado na nossa caminhada pela vida. Com ou sem uns braços fortes que nos amparem, temos de fazê-la.

    Beijinho doce e uma óptima semana :)*

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  3. belo texto. Os caminhos fazem-se caminhando. Seja um primeiro passo ou todos os outros que a vida nos faz dar. Muito bem retratado esse passo inseguro. bj

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  4. Perdoar-me-ás que tenha 3 coisas para te dizer e que nenhuma delas tenha que ver com este teu texto???
    Ora aqui vai:
    1) Vim em busca de um texto teu em que falavas do início deste blog, da hesitação antes e da satisfação depois... Lembras-te? Mas não o consigo encontrar! Já na altura te referira que o indicaria a um amigo, mas entretanto isso acabaria por não acontecer e queria muito que ele o lesse. "Ajudas eu"? 'Bigada!:-)
    2) Não sei se já antes me apercebera de que me incluiste na tua lista de blogs, mas creio que não, se hoje sinto tal surpresa! É muito querido da tua parte; obrigada de novo;
    3) Confesso que, quando aqui venho, puliro um pouco aqui e além e ando para a frente e para trás, até porque o teu blog já tem história e eu faço por não me ficar pelos últimos posts. E queria dizer-te que li hoje o "Noites", e que se o não tivesse lido não teria percebido que te avéns com algumas coisas pesadas na tua vida. Deixo-te o meu sincero reconhecimento por isso também.
    E um grande abraço!

    PS - E é claro que li o teu primeiro passo!... O 1º de tantos que deste e que te trouxeram até aqui, ao que hoje és...!:-)

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  5. Que bem retratas esse teu primeiro passo, Quim!
    Estás cada vez a escrever melhor, homem:)
    Beijinhos e boa semana.

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  6. Caro Joaquim
    Gostei muito da sensibilidade deste pequeno texto escrito por um (grande) lobo...
    Espero que gostes tb das minhas intervenções no meu blog ambiental BioTerra.
    Um abraço amigo deste portuense:)
    Joao

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  7. Tão simples, tão lindo, tão real e tão bem escrito.

    Muitos mais adjectivos merece este texto mas quero apenas dizer que está comovente.

    Gostei muito.
    Boa noite

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  8. Lindíssima evocação/ reconstrução de algo tão determinante nas nossas vidas. Muito comovente!

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